AS TRÊS TIAS (PARTE 1)

As três tias tietam entre si. São parceiras da sofrida vida, crescidas na roça. Tietam entre si porque a fama que se incorporou nelas, não veem da fantasia da serenata mexicana passada nas novelas mexicanas. A fama que se incorporou nelas veio da luta diária na colheita da roça, para a sobrevivência do dia a dia, para saber se o dia seguinte será diferente. É quando descobrem que o próximo não é o vindouro com ouro dourado, mas com ouro roçado, o ouro da sobrevivência.

A fama que se incorporou nas três tias é a resistência. Dos filhos que nasceram, dos que morreram, dos que viveram e foram divagar não na roça, mas na capital. Lá onde as máquinas não eram as mãos que movem a terra, mas a máquina da máquina que move as máquinas, criando o burburinho das estações industriais e você já nem sabe mais se é inverno ou verão, primavera ou outono, poeira, pó, cinza, ou geada.

As três tias, que são mães dos três filhos primos, estão espreitando o destino dos filhos primos peregrinos. Mas a fama é o fardo da roça e as resistências convida-as a plantar sobrevivência. Enquanto os filhos comem o pão que o estado amassou na capital.

O destino é belicoso. Apesar da fama, as três tias sorriam à vida, mas um filho primo peregrino se foi. Levado pela estrada construída pelos homens da capital, pela máquina veloz da capital. E as três tias tietaram o choro do primeiro valente perdido. Não houve espaço pra mais nada nem ninguém. Foi o choro das três mulheres tias que resistem. É a fama. O filho que se foi, não tinha pouco tempo, havia ido na roça, nas suas origens, para se casar. Mas o destino é belicoso e as três tias foram plantar batatas regadas à lágrimas. Quando colheram e coseram, dispensaram o sal. Já estava amargamente salgado e docilmente comestível. É a resistência.

D'Oliva

Dani Olivia
Enviado por Dani Olivia em 14/02/2015
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