MEU AMIGO SIMÃO, O PESCADOR
Era assim que eu o chamava. Simão, meu amigo tão querido, e por causa do nome, o apelido; “o pescador”.
Era, porque acabamos de perdê-lo. Foi-se, silenciosamente e sozinho como sempre vivera.
Simão era um sábio; que parece me veio das profundezas do mar, para alegrar minha vida, meus dias. Nadava como ninguém. Para ele estar na água nadando era primordial, sua existência, sua necessidade. Na água ninguém o batia, brincava e fazia piruetas como um golfinho e às vezes parecia-me um tubarão; com suas feições fechadas, um que de carrancudo.
Comilão como ele só; apesar de uma alimentação farta; para ele não bastava. Estava sempre a beliscar e a procurar petiscos aqui e ali. Mas seu porte forte e robusto sempre elegante, não denunciava essa compulsão por comida. Acho que mantinha a forma nadando... Nadando e nadando.
Simão apesar de silencioso na maior parte do tempo era também brincalhão. Passávamos boa parte de nosso tempo brincando, pulando, como se nada mais houvéssemos a fazer. Quando estávamos na água então a brincadeira era deliciosa; ninguém ganhava dele em alegria, esperteza e rapidez. Dizíamos que nasceu para viver na água, que fazia parte dela.
Como meu confidente e amigo não tinha para ninguém. Sabia ouvir-me por hora afim, sem me interromper e quando eu me dava por satisfeita, ele pensativo e silenciosamente mostrava-me meus erros e acertos. Nesses momentos eu ficava a ouvir minha própria voz, no momento em que me confidenciava com ele, e entendia onde eu havia errado e prometia a ele que mudaria meu modo de ver meus problemas ou de outrem. Por isso disse ser ele um sábio.
Por anos estávamos juntos. Em troca de sua dedicação e carinho, dava-lhe amor, cuidados com sua casa, suas comilanças preferidas; cuidava de sua vidinha tão importante.
Chorei muito a perda do meu amigo Simão. Mas entreguei meu singelo amigo ao meu Deus, porque acredito que Ele cuida de todos nós. Sentirei muita falta de tudo que passamos juntos. Das nossas brincadeiras na água, confidencias, e de sua expressão a me observar louvando a Deus, como se entendesse. Sei que Deus vai cuidar bem do Simão, pois Ele cuida de todas as criaturas do universo, desde um ser humano como eu até um peixe, como o Simão.
Adeus Simão, Deus te levou para as águas profundas dos rios da eternidade, para que desfrutes da liberdade sem fim. Agora está livre, meu amigo Simão, nada de paredes de vidro, para barrar seu desejo de conhecer o mundo, piruetar por ai, dançar como os golfinhos, de estar com os seus, em seu habitat natural. Obrigada Simão, meu amigo... Vá, nade como nunca.
E se foi Simão, o pescador.