A Passista
Era carnaval. Rua colorida pelas fantasias dos foliões que misturavam bebidas, beijos e dança. Como um ritual os corpos se encontravam e as bocas também, o beijo acontecia. O trio elétrico passava e os casais se separavam correndo atrás do trio.
Perdi a conta de quantas mulheres beijei naquela tarde quente na grande Salvador. Brancas, negras, loiras, isso porque não alimentava nenhum tipo de preconceito. A mulher tem o dom de despertar a minha atenção. Desde as mais jovens as mais experientes, cada qual em sua fase preserva uma beleza. E nenhuma reclamou dos meus beijos. Era chegar e pronto. E depois partir atrás do trio, para despistar, pois se ficasse com uma garota… e a minha noiva descobrisse…Ângela pensava que eu estava viajando.
De repente senti que estava sendo observado. Olho para o lado, só não posso dizer que me apaixonei, pois já era apaixonado pela minha noiva. Mas aquela passista… que corpo fenomenal! Pena que ela usava uma máscara que cobria o rosto. Excitado também queria fazer parte daquele ritual que a passista estipulou. Sério. O quê ela fazia?
Enlouquecia os homens com a sua dança sensual, jogo frenético de pernas e braços, sem soltar uma sombrinha colorida. Um frevo na terra do axé era o suficiente para chamar a atenção de toda galera masculina. Ela queria o quê? Usando uma saia curtinha, um top, mas os meus olhos não desgrudavam da calcinha vermelha… Aliás, nem sei bem se era vermelha, vinho… A mulher era tão rápida que não dava chance de pensar. E escolhia um observador ao acaso, colocava a sombrinha na frente, como se protegesse dos olhos curiosos, e beijava-o, sem largar a sombrinha nem a máscara.
Quis ser o privilegiado naquela tarde. Pois sempre tomei a iniciativa, mas a passista roubou a cena, invadiu o cenário e encheu o Campo Grande com a sua presença. Não sei o que deu em mim, queria ser beijado também. Pode parecer bobagem, mas aquela boca linda, com um batom vermelho quis saborear. E parece que os pierrôs e as colombinas de todos os carnavais estavam a meu favor. A passista me notou na multidão.
Como em sonho ela se aproximou e colou o corpo no meu. Eu tremia, suava, gemia feito um adolescente inexperiente. E aquele beijo sem igual. Susto e prazer se encontraram. Fiquei tão empolgado que ignorei a multidão que vinha acompanhando o trio, agarrei-a pelos cabelos a queria só para mim. Tinha que me conter, mas ela merecia passar pelo céu e inferno que despertou em mim… Em êxtase arranquei a máscara.
_ Ângela?! Ângela?!
E o trio elétrico passou.
Elisabeth Amorim/2015
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