Clube de Solteiros
Quando te vi controlavas a entrada ansiosa. Tinhas o rosto muito pintado e a roupa ousada dizia-me da tua urgência em achar companhia. Pensaste que qualquer um te serviria mas, vistos de perto, ou eram muito velhos ou olhavam-te com o ar de quem vai ter a seguir uma presa fácil. Recusaste os três primeiros. Ali ninguém precisava de se sacrificar dançando com quem, desde o primeiro instante, desagradasse. – Se calhar, vens à procura de um príncipe, clamou, ofendido, um dos homens que preteriste. E tu não respondeste. Uma espécie de desânimo parecia invadir-te o corpo e o teu rosto ficou mais tenso. Ajeitaste o decote da blusa, afagaste a cabeleira de caracóis largos e, de novo, o olhar se focava no retângulo mais iluminado da entrada. Percebi que teria de sair e voltar a entrar para que me visses e foi isso o que fiz. Quando os nossos olhos por fim se encontraram dirigi-me para a tua mesa e, em vez de pedir-te para dançar, perguntei se me poderia sentar. Senti-me aprovado e isso desencadeou a conversa. Nenhum de nós tinha nada a perder. E ficámos, a medir as palavras, a recolher as sensações, a ensaiar a intimidade. Só depois contaste a tua vida destroçada. Tremias agarrada ao meu braço, rolava pelo teu rosto o negro da pintura e um choro suave sacudiu os teus ombros. A seguir foste aos lavabos e, quando regressaste, quase não te reconheci. Lavaste o rosto, trocaste de roupa e vieste, como uma colegial, pedir-me para dançar. E ficámos horas abraçados, a gozar a música em silêncio. Depois pediste para te ligar e desapareceste no portão do edifício onde moravas. Só dormimos juntos muito tempo depois.