HOMEM NA CHUVA II

HOMEM NA CHUVA II

Terça-feira, 18:23 h de horário de verão. Chovia a cântaros. Desci do ônibus coletivo, na Avenida Quarta Radial, vindo do trabalho, exatamente no ponto (construção de alvenaria e coberta, para abrigo dos usuários do transporte coletivo). Ponto este para quem estava vindo do centro de Goiânia, indo para os bairros, ao sul.

Como havia uma lanchonete do lado do ponto de ônibus, e ainda aberta àquela hora, sem nenhum freguês, somente o dono atrás do balcão; entrei ali para me esconder da chuva. E no que olhei para o outro lado da Avenida, eis que havia um homem sob a chuva, parado feito uma estátua.

Pelo visto aquele mesmo homem que vi no domingo, na esquina da rua lá de casa.

Ele molhava por que queria, pois do lado dele, menos de cinco metros, à sua esquerda, estava o ponto de ônibus, para quem vinha dos bairros para o centro; às suas costas havia um lote vago com uma manguba (árvore frondosa), que o protegeria, com certeza, da chuva; à sua direita havia uma oficina para consertos de bicicletas, fechada naquele momento, mas a marquise desta serviria de teto contra a chuva. Se atravessasse a Avenida, existia o ponto de ônibus, onde desci; a lanchonete onde eu estava ou um posto de gasolina, todo coberto, logo abaixo, menos de cinquenta metros.

Mas ele, realmente, queria se molhar na chuva.

O único movimento que fazia era o mesmo de domingo: passava a mão direita no rosto para limpar o excesso de água.

Vestia a mesma calça jeans, a mesma camisa amarela, arregaçada no cotovelo; a mesma sacola de plástico, pendurada na mão esquerda; a única diferença visível era o boné, agora branco, com letras escuras, ainda ilegíveis de onde eu estava; só que agora dava para ver que estava calçado de tênis branco.

No que passou um ônibus, subindo para os bairros, bloqueou minha visão por não mais do que vinte segundos, mas foi o bastante para o homem na chuva, sumir. Ainda olhei intensamente no sentido da avenida em direção ao centro, nada dele; o inverso também, no sentido bairros, nem sinal do homem.

Para não ficar na dúvida perguntei ao proprietário da lanchonete:

- O senhor também viu o homem que estava parado, sob a chuva, do outro lado da Avenida?

Este confirmou fazendo uma nova revelação; até certo ponto esquisita:

- Vi sim. E domingo, naquela chuva da tarde, ele estava no mesmo lugar.

Não quis contradizê-lo, pois no domingo, o homem estava na esquina lá da minha casa no horário da chuva da tarde.

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 12/02/2015
Código do texto: T5134575
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