HOMEM NA CHUVA I

HOMEM NA CHUVA I

Chovia torrencialmente. E ventava. Ventos de sul para norte. Fazia frio pela umidade da chuva, com sensação térmica de mais frio, por causa do vento.

O camarada estava parado na esquina, quase em cima do meio fio, de frente para o norte, recebendo a chuva nas costas. Ele, realmente, queria molhar, pois se atravessasse a rua no sentido sul, lá estava uma árvore frondosa que o aliviaria quase na totalidade da chuva. Ou podia atravessar as duas ruas, de onde estava, obliquamente, e estaria protegido pelo telhado do beiral de uma casa residencial; ou ainda atravessar a rua no sentido leste e se resguardar totalmente da chuva, na marquise de uma mercearia, no momento fechada, pois era domingo, meio da tarde.

Aquele cara queria mesmo molhar. Não arredava pé de onde estava. Parecia um espantalho, de tão quieto. O único movimento que fazia, de vez em quando era passar a mão direita, pelo rosto, para tirar o excesso de água.

Ele tinha um boné, na cabeça, daqueles comuns, de propaganda (de onde eu estava não dava para ler as letras claras no fundo escuro); vestia camisa de um amarelo berrante, de mangas compridas, arregaçadas até os cotovelos; calça jeans nova, pois o azul era viçoso; não dava para perceber se estava ou não calçado. Tina na mão esquerda uma sacola de plástico, parecia pesada, pelas alças estarem retesadas.

Eu o observava pela grade da frente da minha casa, segunda depois da esquina, para o norte, menos de trinta metros de onde ele estava.

A chuva amainou e depois cessou. O “molhado” continuava parado.

Não tendo nada melhor para fazer; e muito menos tendo algo de relevante com o sujeito na chuva, resolvia entrar, mas como lá dentro também não achei nada interessante, tomei um cafezinho e voltei para meu posto de observação.

O “molhado”, agora tinha a sacola na mão direita. Continuava parado. E de repente a chuva voltou ainda mais torrencial; e ele não se moveu. Choveu por uns cinco minutos e parou, também de repente.

Pensei cá com meus botões que cara doido!

Como não mais chovia resolvi ver o “molhado” de perto. Abri o portão e... no ato de me virar para abrir o portão, não observei o cara; e este sumiu do meu campo de visão. Corri até a esquina, pois existia a possibilidade dele ter subido a rua para oeste, assim ficando oculto pela casa da esquina, mas qual o quê? No que cheguei à esquina e olhei ao longo da rua, cadê ele? Evaporou.

Mas eu estou aqui firme e forte.

P. S. Outras pessoas observaram o homem na chuva; e como eu ninguém sabe quem é e nem para onde foi.

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 10/02/2015
Reeditado em 11/02/2015
Código do texto: T5132065
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