Mariana, uma mulher vaidosa.
Há pessoas que mudam depressa com a maturidade, a formação e os amigos e conseguem neutralizar a selvajaria dos genes. Ela não. Trinta anos depois pensava do mesmo modo. Moda, moda, moda. Arte, cultura, informação não existiam como preocupação na sua vida em tudo parecida com deserto do Sahara ou do Namibe que, por causa da Welvitchia Mirabilis, se tornou conhecido mesmo sendo tão árido como os demais. Falo de Mariana, a minha prima que, tanto tempo depois, pedia guarida lá em casa para ir ao médico especialista. São só três dias, disse-me. Claro que eu deveria ir à Rodoviária esperá-la, apresentar as boas vindas da Família, ser simpático para a confortar pela recente viuvez mas, recordando a figura, passei ao Ferreira, amigo de juventude e antigo namorado, meu colaborador, a tarefa de a acompanhar. Ficou excitado. - Ainda é uma bela mulher, por certo, comentou. Vou com todo o prazer. Só tenho um problema: como vou eu reconhecê-la no meio de tanta gente? Nada mais fácil, respondi. A primeira mulher que sair com ar de fonte luminosa é a Mariana. Não há que enganar. Olhou-me sem compreender mas lá foi. Duas horas depois vi-os chegar. Ferreira suava sob o peso da bagagem que incluía uma coleção de vestidos, casacos, carteiras, sapatos, perfumes e adereços vários tudo dentro de uma mala antiga, sem rodinhas. Mariana ria muito, tão vazia como antes. – Nós, as senhoras, só nos decidimos na altura de usar as coisas. Trago sempre mais do que irei precisar, disse fresca e airosa. Ferreira olhou para mim desesperado com o peso da mala e disse entre dentes: - Tá certo, Mariana, mas a vaidade deveria ser proporcional às forças de cada um. Da próxima vez traz só o que puderes transportar sem ajuda. Ninguém é teu burro de carga, não é?