A REVOLTA DO CORNO
A REVOLTA DO CORNO
A BR – 153, dentro do perímetro urbano de Goiânia e Aparecida de Goiânia, faz margem ou corta vários setores residenciais e/ou comerciais, entre outros, destas duas cidades. No “entre outros” está incluso a região dos motéis (não definido se indústria ou comércio... “risos”).
A Vila Sul, setor residencial do município de Aparecida de Goiânia, é margeada a leste, exatamente pela BR – 153; e fica anexa a região dos referidos e ditos cujos motéis. De onde sai uma linha de ônibus para o terminal Isidória (para onde convergem passageiros de vários setores da periferia; e dali para o Centro de Goiânia).
A linha 183 – Terminal Isidória / Vila Sul passa por uma Avenida abaixo da rua da minha casa; e na ilha desta avenida foi construída uma pista de caminhada. Exatamente nesta pista estávamos eu e meu netinho, num final de tarde, nos deliciando nas sombras de varias árvores ali existentes (para refrescar o intenso calor que estava fazendo), quando de repente um veículo gol, modelo antigo, chamado de gol quadrado, ultrapassou e freou, logo à frente do ônibus desta linha 183, que vinha da Vila Sul, indo para o Terminal Isidória. O ônibus também freou bruscamente e parou. No que parou, o motorista do gol saltou e foi de encontro do ônibus; só que pela lateral da esquerda, ainda pelo centro da pista, enquanto que as portas são pela direita; lado externo da pista.
O referido sujeito, ao se aproximar, gritou:
- Desça daí sua vagabunda! Vou te ensinar a não cornear um macho!
De camarote eu vi uma zinha se encaminhar, ás pressas, até o motorista do ônibus e implorar:
- Pelo amor de Deus, não abra nenhuma porta! Se meu marido entrar aqui ele é bem capaz de matar de pancadas eu e meu amigo.
O restante dos passageiros, que não eram muitos, talvez uns dez, caíram na gargalhada. Entenderam a novela capítulo por capítulo. Aquele ônibus vinha da região dos motéis, aquela zinha acompanhada de um mancebo que não era seu marido...
O corno insistia do lado de fora:
- Desça sua puta! Que vou quebrar a sua cara!
Não percebi o desenrolar dentro do ônibus, só vi quando o corno contornou a traseira do ônibus e saiu correndo pela rua perpendicular à avenida.
Alguns passageiros e outros gaiatos que por ali transitavam, gargalhando gritavam:
- Pega! Pega o comedor de esposa safada!
Á frente corria um engomadinho e atrás o marido, pelo visto.
A lógica da coisa: a zinha vinha do motel com o amante, o marido parou o ônibus pesando que ela viesse sozinha; mas qual o quê? O amante vinha junto, todo leve e serelepe, depois do amor; o marido percebendo o rival descendo do ônibus, tentando escapar, partiu para cima deste.
À revelia dos outros passageiros que queriam presenciar o final do embate, o motorista do coletivo deu ré, contornou o gol e seguiu viagem, com a “esposa traidora” dentro.
Não sei se o corno conseguiu pegar o rival, pois viraram numa rua logo à frente; e eu tinha meu netinho para cuidar...
P. S. Narrativa verídica, do nosso cotidiano.