SEM NOÇÃO
Eu almoçava tranquilamente em uma mesa de restaurante a qual é contígua a outra, cada uma guarnecida com quatro cadeiras.
Embora o restaurante solicite aos seus frequentadores que devolvam as bandejas, pratos e utensílios a um local de onde é recolhido para a higienização, nem todos se dignam a fazê-lo. Por esse motivo na mesa contígua à que eu me encontrava, havia uma bandeja deixada por um cliente anterior.
Aproximaram-se duas moças com os seus pratos servidos e uma delas, antes de se assentar, apanhou a bandeja da sua mesa e sem qualquer cerimônia, colocou-a sobre a mesa em que eu me encontrava.
Não creio que aquela distraída jovem tenha feito por mal, mas é flagrante o egoísmo existente por trás daquele ato. Afinal se aquela bandeja incomodava a ela, porque razão não haveria de incomodar a mim? É, por analogia, varrermos o lixo de nossa porta para a porta do vizinho.
Fosse eu uma pessoa propensa ao revide, levantar-me-ia e, com a mesma atitude espontânea e taciturna, devolveria a bandeja à mesa de origem.
Certamente a displicente senhorita iria julgar deseducado de minha parte, mas, a rigor, diante da situação, essa seria até uma atitude razoável.
Evitando constranger a minha vizinha, não esbocei qualquer feição de desagrado e continuei a almoçar como se não houvesse me incomodado com tal situação. Apenas fitei o seu rosto, cuja beleza não se projetou naquela atitude.