Olhar
Essa pessoa que ela tanto detestava a encarava. Seu olhar de desprezo lhe entrava até o fundo do coração, e ela se sentia como se não houvesse para onde fugir. Aqueles olhos grandes, assustadores, se cravavam nela. O rosto medonho, com o nariz grande e o queixo cheio de espinhas, e os lábios finos torcidos numa careta de escárnio, a deixavam sem fôlego. A pele dessa pessoa lhe dava nojo. Por quê não podia mudar? Por quê ela era assim, tão diferente? Por quê o cabelo daquela pessoa era tão emaranhado, seco, descolorido? A dupla camada de gordura que rodeava o pescoço da sua inimiga era irritante, seu aspecto todo lhe dava ânsia. E seu olhar, cada vez mais pungente, cada vez mais odioso.
Ela fechou os olhos, tentou se esconder do olhar que se refletia no espelho.