Pré-conceito

Ela me olhou dos pés a cabeça. Me medindo, avaliando o preço de minhas roupas, e dizendo a ela mesma que eu batera a porta errada, e que a vaga para faxineira era no piso térreo e não naquela sala burguesa e sofisticada.

Eu como sempre faço, sorri, dei meus cumprimentos e disse um saudoso "Bom Dia". Me guiando até sua grande sala a burguesa me diz para sentar em uma cadeira frente á ela.

Começa então me interrogar, me fazendo perguntas sobre minhas experiências anteriores e vida pessoal. Respondi todas elas calmamente, sem afobação e olhando sempre bem no fundo de seus olhos, como se tentasse ler algo a mais do que sua boca não dizia.

Então, ela após todo interrogatório, se levanta e diz sem muita entonação ou importância, que eu escreva uma redação e sai, mas antes que ela fechasse a porta atrás dela me deixando sozinha naquela grande sala eu pergunto: - "Tema livre?" e ela diz sem me olhar: - É. E sai do recinto batendo á porta!

Eu fiquei cerca de 2 minutos encarando aquela folha em branco e tentando começar algo que eu não sabia ao certo o que era. De súbito, algo me vêm a mente e faz com que ela repita algo do tipo: " Na vida existem caminhos confusos, certos, atalhos e estradas longas sem destino." E por ai foi que comecei a escrever aquele tema livre então...

Quando me dei por mim já tinha ultrapassado todas as linhas possíveis, tinha ultrapassado todos os caracteres possíveis, e ainda fechado meus pensamentos com um - "Atenciosamente, Maria Vitoria!

Nem se quer revisei o texto, poi sabia eu que tal feito não continha falhas, todos os pingos nos 'IS', todas as regras linguísticas bem respeitadas e perfeitamente conjugadas... e sabe porque eu nem me dei ao trabalho de reler meu texto? Por que eu não escrevi pela obrigação, e sim, pelos prazeres de colocar no papel tudo o que eu estava sentindo e tirar da minha mente o que me perturbava!

Assim que acabei, fui chama-lá...

Ela então entrou com certo desdém, olhou para meu texto e começou a ler na minha frente, passando os olhos para lá e para cá, devorando cada paragrafo. E eu ficava o tempo todo olhando para ela, me sentindo tranquila e confiante, só aguardando o momento em que ela iria se deparar com o: "Atenciosamente, Maria Vitoria."

Após a sua leitura, ela me fita... com os olhos esbugalhados e encharcada pela água fria que acabou de ser jogada violentamente em sua cabeça. Espantada e surpresa, ela me olha pela primeira vez com outros olhos e me enxergar com o devido respeito que mereço. A burguesa tropeçou tanto, mais tanto bastante palavras, que eu quase não entendia o que ela disse ou tentou dizer. Por dentro então eu ria, ria de chorar rolando no chão, e ria e ria...

Me acompanhando então até a saída e dizendo que mostraria meu texto para seu superior e caso ele gostasse entraria em contato, ela me olhou mais uma vez, desta vez sem me julgar pela minha pele escura, minhas roupas que não eram de grife, meu cabelo que era cacheado e não alisado e minha postura, que não era de forma alguma inferior á ela!

Eu então sorri, gargalhando ainda por dentro, me despedi educadamente e passei pela porta á fora da burguesia, que na verdade, de alta classe não tinha é nada, e parti...

Colocando meus fones e me deixando levar pela bossa nova e pela satisfação de dever cumprido.

Mvitoria
Enviado por Mvitoria em 29/01/2015
Código do texto: T5118243
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