DE COMO OS NARIZES LEVARAM A PIOR
DE COMO OS NARIZES LEVARAM A PIOR
- Entra logo “seu porra”! Não tenho o dia todo só para você! Vê se agiliza!
Era um motorista de ônibus dando uma bronca num cabra paciencioso, que estava demorando a entrar.
- Desçam rápidos cambada de lerdos! Não sou empregado particular de nenhum de vocês! Tenho horário para cumprir!
Novamente o motorista apressando alguns passageiros morosos para saírem do ônibus.
- Não sabe dirigir, navalha! Não está transportando porco para o abate!
Um senhor que foi jogado, do corredor do ônibus, com o nariz de encontro à porta deste; após um tranco de uma bacada (pancada por cair num buraco); ao que parece causada por um cratera no asfalto (o que é comum nas ruas e avenidas por onde circulam ônibus coletivos, principalmente em Goiânia).
Depois de outro tranco, ainda mais violento que o anterior, houve revolta geral dos passageiros do ônibus. E um mais audacioso extrapolou:
- Motorista filho da puta! Venha aqui atrás que quero te ensinar a dirigir! Acha que ganhei nariz na loteria para você amassá-lo na lataria do ônibus!
Não é de ver que o motorista, com o veículo em movimento, largou o volante, saiu do banco, pulou a catraca de registro das viagens; e foi todo esbaforido procurar quem o ofendeu:
- Quem foi o desgraçado que me chamou de filho da puta?
O camarada não fez de rogado, até por que todos estavam olhando para ele, como que avisando “foi ele!”.
- Aqui estou eu! Vai encarar!
Quando parecia que os dois iam se atracarem, o ônibus sem motorista, desgovernado, avançou para a pista contrária; que por pura sorte dos passageiros e motorista do ônibus; e azar de dois seres viventes (um burro e um ignorante), naquele momento não trafegava nenhum carro mais sólido na outra pista, bateu de frente com uma carroça, puxada por um burro birrento, guiada por um infeliz mais birrento do que o burro.
No que bateu, quebrou o varal lateral da carroça, arrebentou a correia que prendia o burro a esta; este ao se ver solto, deixou a birra de lado, levantou o nariz, cheirou o ar e evadiu do local, sem ao menos olhar para trás.
O carroceiro birrento foi jogado no para-brisa do ônibus, bateu feito bola de ping pong, voltou para a carroça, mas como esta não mais existia nos conformes, estava desmantelada, devido o impacto e ter sido esmagada pelo ônibus, o infeliz se esborrachou no asfalto, quebrou o braço esquerdo e recebeu várias escoriações pelo corpo, inclusive seu nariz foi reduzido pela metade. A outra metade nunca ninguém encontrou (até hoje não se sabe onde foi parar). O ônibus parou com o nariz (lá dele: ônibus) enterrado num barranco do acostamento na contramão.
Devido ao acidente o entrevero do motorista com o passageiro foi adiado.
Na batida, a porta do meio do ônibus se abriu. Ainda que aos trambolhões devido o tombo, o carroceiro invadiu este; e foi logo distribuindo sopapos, com o braço direito, que estava inteiro e chutes com a perna direita. Quem recebeu o primeiro murro, bem no nariz, por coincidência, foi o motorista. O segundo sopapo foi no gogó, também do motorista; e o terceiro catiripapo foi no nariz do dito cujo referido passageiro beligerante. Sendo que cada um, respectivamente, motorista e adversário, recebeu um chute cada, nas canelas.
Como apareceu, desapareceu o acidentado. Segurando o braço quebrado foi à procura do burro, que a esta altura do campeonato pastava tranquilo uns tenros fiapos de capim, não muito longe dali.
Dentro do ônibus, se antes havia beligerância e xingamentos, agora todos se uniram para defender o carroceiro, todos não, pois o motorista e seu oponente cismavam em culpar o carroceiro e o burro pelo acidente.
No que apareceu uma viatura de polícia, que só com sua presença foi como jogar água em brasas...
P. S. Fato verídico, acontecido realmente (com alguns floreios), neste meu cotidiano, de 35 anos de uso de ônibus coletivo.