Sobre sentir
Sobre se sentir indiferente. Você acorda, come qualquer coisa, coloca aquela camiseta desbotada, abre a porta e toma o seu rumo. Enquanto você caminha os carros buzinam, a luz verde pisca, as pessoas se esbarram nas calçadas e você respira no ritmo dos seus passos. Os olhos não se encontram, os pelos não se arrepiam, o coração não acelera. Sobre se sentir vazio. As horas do dia passam como se fossem crianças aprendendo a caminhar, tropeçando, devagar. O café da tarde tem gosto de ontem e o telefone não toca desde o último tropeço do relógio. As paredes vibram e é hora de voltar para as calçadas. Sobre se sentir cansado. Tirar a roupa é a tarefa mais árdua do dia, os músculos doem quando o zíper se abre. Olhar no espelho e ver as marcas deixadas pela falta de alguma coisa que não se sabe o que é. Os ombros vermelhos, as veias azuis, os olhos transparentes. Sobre se sentir leve. O travesseiro afunda com o peso da rotina. O som do nada enche os pulmões. A luz reflete na pele do seu braço caído para fora da cama e olhar para as cores da parede te enche de esperanças. Amanhã seus passos serão mais rápidos, amanhã seus cabelos vão balançar com o vento e o relógio vai funcionar no tempo certo. Sobre se sentir vivo. Você acorda.