Contrônicas de Robert Ramos

Hoje é dia 13/01/15...

o ano de 2014 passou tão rápido, e hoje já é dia 13.

Ano passado foi um dos piores anos da minha vida, passei a maioria dos dias desempregado, entregando curriculum pra lá e pra cá, debaixo de sol quente, que parecia estar lá em cima só pra mim, e para piorar a situação, tive muitos ataques de "síndrome do pânico", mal conseguia pegar um ônibus para ir ao centro da cidade procurar trabalho, passei a andar a pé para evitar um transtorno maior, pois essas crises, se tornaram frequentes e me dominavam por completo, podia estar em qualquer lugar, com pouca gente ou no meio da massa arrivista, que esse pânico me pegava de surpresa , claro que uma das bem desagradáveis.

Hoje varia os dias que ela me ataca, tem dias que não estou pra ninguém, e só de ouvir as pessoas falando e falando, me embrulha o estômago, meus familiares dizem que , "isso é uma parte anti-social da minha personalidade, e que se eu passo mal as vezes é porque estou muito estressado", de fato estou, mas creio que não é esse o real motivo destes ataques repentinos de pânico.

Eu me sinto como se estivesse tendo um infarte do coração ou algo assim, como uma sacola de plástico na cabeça , quando entro nos ônibus, pode estar o sol que for, minhas mãos ficam frias e os dedos enrijecem como que não posso move-los muito bem, estranhamente me calo, mesmo quando há um acompanhante comigo, no caso sempre a minha esposa, coitada, ela sempre tenta me fazer sentir melhor, em vão, mas eu não demonstro isso pra ela, porque sei que, só ela esta comigo nessas horas.

Quando desço do ônibus , tudo muda quase que de imediato, posso mexer os dedos e minhas mãos não soam tanto, e logo eu falo alguma coisa, mesmo que seja sem assunto , um "que calor da porra", é uma das minhas primeiras palavras de vida, e logo me sinto bem.

Moramos numa casa que não é nossa, num cômodo que outrora foi sala da sogra, hoje vivemos lá, com mais 6 gatos e um coelho , que de vez em quando brinca com os gatos, minha sogra sempre me odiou, principalmente por eu não ter um trabalho fixo a quase um ano, mas desdo começo quando comecei a namorar a minha atual esposa, aquela velha sempre praguejou nosso relacionamento, dizia que sua filha seria uma mulher sofrida que nunca teria nada na vida, porque tinha como parceiro um vagabundo, que não lhe sustentaria como ela sempre sonhou pra sua filha, filha única inclusive, não a culpo por isso, pois sei que a primeira vista posso parecer vagabundo, mas eu tento trabalhar, mas parece que quando chega um certo tempo de trabalho, eles me mandam embora do nada, e é sempre no pior momento , aquele que nem a ração dos gatos da pra comprar.

Já trabalhei como tosador de cachorro, de entregador, de vendedor, de ajudante de logística, de estampador de camisetas, de ajudante de pedreiro, de operador de câmara fria, de ajudante de açougue, de repositor em mercado, já trabalhei com ramo de doces, e algumas outras profissões que não me lembro mais, e todos esses empregos duraram no máximo 7 meses, tenho apenas um registro na carteira de trabalho, e logo depois do registro a loja faliu e reabriu em outro local, mais precisamente em Pinheiros, a uma condução de Osasco, mas o patrão deixou um único funcionário para trás, adivinha quem?.

Depois de tanta coisa , nesse assunto de emprego e desemprego, consegui um dos piores trabalhos da minha vida, o trabalho era simples, no terminal de Ônibus em Osasco, tem vários pontos , e em cada ponto

um carrinho de alguma coisa, tipo cachorro quente, pipoqueiro, esse tipo de coisa, para quem estiver esperando o seu ônibus, beber ou comer alguma coisa, sem perder a condução, a minha tarefa era o seguinte:

* Passar em cada um dos carrinhos , empurrando um carrinho de mão bem vagabundo, com um dos pneus maior que outro, e um bloquinho de notas e uma caneta

* Anotar os pedidos de cada cliente, como água, açúcar, refrigerantes, doces e salgados e outras coisas

e retornar até a loja onde eu repassava os pedidos para o patrão, e ele designava o valor da compra de cada cliente numa nota , que eu tinha de trazer de volta assinada e com o dinheiro de cada compra.

Bem simples era o trabalho, porém com o passar dos dias, e esse aquecimento global miserável, a procura por água e gelo era grande, então eu ia e vinha com o carrinho pra lá e pra cá , o dia inteiro naquele sol escaldante, sem contar que pra chegar nos terminais, com aquele carrinho de mão desgraçadamente usado e precário, tinha uma avenida a se atravessar, com carros frenéticos buzinando, enquanto eu recolhia tudo aquilo que caia do carrinho, eu tinha de levar o pedido de todos os clientes duma vez, assim poupava o tempo das entregas, para o patrão logo mandar para outro lugar, como alguns motéis de quinta nas ruas baixas de Osasco, sempre tinha clientes pedindo água e doces nesses locais, um dia lembro-me duma entrega, que fiz num desses motéis , tinha uma recepcionista horrenda e com cara de poucos amigos, cheguei na hora com os pedidos, ela disse pra subir pelas escadas até o andar de cima e deixar tudo na cozinha, " 4 fardos de água sem gás e 2 com gás, e duas barras de gelo grande, subi lentamente as escadas com os pedidos, um por vez, esse era o único lado bom deste emprego, eu embaçava o máximo que eu podia nas entregas e eu podia andar o dia todo, em cada rua que eu mal sabia que existia, e naquele motel barato , me rendeu algumas rizadas , ouvindo os sons de coito , numa tarde de coitado.

Robert Ramos
Enviado por Robert Ramos em 26/01/2015
Código do texto: T5114950
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