O conto do velho contista
Esta história foi contada por um velho, que eu o apelidei de Velho contista...
O conto do velho contista
Frequentar aquele bar era um passatempo para Fernando, lá ele sentava na cadeira e pedia uma cerveja para o dono, que sempre perguntara:
-Como você esta hoje campeão?
-Sólido como uma pedra.
Fernando o respondera sempre, depois do primeiro gole naquela cerveja gelada, e logo depois de terminar a garrafa , pedia para o dono uma doze de 51, e tomara duma vez só aquele meio copo de veneno, como ele se referia a aquela cachaça branca. Ele adorava aquele lugar, tinha uma mesa fina de bilhar que vez ou outra, jogara a dinheiro com outros frequentadores do local, conversando sobre o futebol, mulheres, e assuntos que fugiam a sua rotina. Pelo o que eu pude notar em Fernando, era que ele de certo modo, estava infeliz com alguma coisa, mas que não revelara para ninguém ali do bar, seus olhos me encaravam a cada tacada, e ele sempre piscara o olho para mim a cada encaçapada, e depois pedia mais uma doze, e gritava:
-Pendura ai Cabral - ao sair pela porta.
As tardes eu parava na volta do trabalho, para tomar uma cerveja no bar do Cabral, e Fernando sempre estava lá, parecia que não ia nunca para casa, ele até entrara atrás do balcão para se servir de 51 e cerveja, ele aparentava ter uns 50 anos, com uma sereia tatuada no braço direito, eu nunca falara com ele até aquela tarde que Fernando veio até minha mesa:
-Você tem cara de viado - disse, se ajeitando na cadeira
- Um viado sempre reconhece o outro não é mesmo?
Fernando gargalhou expondo seus 3 dentes, e tomou um gole quando Cabral veio:
-Seu velho, você não aprende mesmo não é?, já chega por hoje, vá pra casa.
Fernando se negou a levantar da cadeira e disse que estava conversando com um velho amigo gay, e ainda pediu outra cerveja:
-Manda outra Cabral essa eu pago
Bateu na mesa colocando duas moedas de 10 centavos, e me encarou furtivamente, e me perguntou:
- Você é punheteiro?
- Cara sai fora daqui !!!
Retruquei levantando da mesa, e indo em direção ao banheiro para mijar e Fernando veio logo em seguida, ficou na espreita me escutando e disse:
- Você ta tocando uma ai? deixa-me ver!
Quando ele veio atrás de mim e me agarrou as bolas, nos empelotamos no chão , e aquele velho viado parecia ter 100 quilos , me esmagando contra aquele chão mijado, forçando minha cabeça que quase explodira de tanta pressão, até Cabral entrar e ver a cena, retirando Fernando de cima de mim
-Que porra é essa? - Cabral perguntou
- Esse velho viado tentou agarrar meu saco
- Mentira ele disse que era gay, e me chamou pro banheiro - Fernando disse
Cabral olhou para a minha cara ,desconfiando de minha masculinidade, e então levou Fernando para fora, e o tocou até ele ir para casa. Me sentei novamente na mesa para terminar minha cerveja, chocado e ao mesmo tempo comecei a rir daquilo, tomando nota num pedaço de guardanapo, Cabral se sentou e se ajeitou na cadeira:
- O Fernando tem distúrbios mentais, ele é bastante inteligente, estudara quase a vida toda, para um dia se tornar um escritor, e ele nem sempre foi assim
- O quê aconteceu com ele? - perguntei tomando um ultimo gole
- Ele não fez sucesso ,com os textos que tanto se dedicou, e sua mulher e filhos foram mortos num assalto, e desde então ele vaga por aqui, bebendo e arrumando confusão.
Cabral piscou um olhos para mim e se levantou, foi para trás do balcão e começou a limpa-lo com um pano encharcado. Lembro-me daquele ultimo gole de álcool em bares de São Paulo. Hoje somente bebo em casa escrevendo pelo simples prazer de escrever, pois não quero enlouquecer com a ânsia da fama, o anonimato já causa muito enjoo , imagine se eu tivesse dinheiro? eu nem estaria lhes escrevendo esse caso bizarro.
" Esses casos de bar é foda" eu disse para o velho contista, protagonista desta história que me contara com detalhes, enquanto esperávamos o ônibus.
Velho contista, narrado por Robert Ramos 24/01/15