Tiana, Quidinho e Henriqueta
Não passávamos, Beu e eu, de moleques com um dígito na idade, quando se nos ofereceu aquela rara oportunidade de visitar, acompanhados de Tibebé, uns parentes nem meio próximos na cidade de Patafufo.
Os parentes não eram o interesse central do passeio, ao menos para nós, vidrados que éramos nas atrações que se nos ofereciam ao ar livre, como a vista de um prédio de seis andares, ou as piabinhas duma fonte naquele centro de cidade mais adiantada e mais bonita do que a nossa.
E vinham de lambuja, a visão da gruta, cercada de cristais, que a devoção popular transformara numa capelinha e, ainda mais celestiais, os sanduíches de pernil, que se vendiam na rodoviária local, mas que tivemos de nos contentar só com a visão e a esperança de, no futuro, gozar daquelas delícias em primícias.
Bóia, se houve, foi com os parentes, mas com aqueles sanduíches na cabeça, seria sandice falar em angu ou arroz canjiquinha, malgrado a boa-vontade e a alegria de quem partilha. Os parentes eram uma Tiana, mais Sebastiana do que Tia Ana, o Quidinho e a Henriqueta, filhos seus, primos distantes meus, creio eu, vivendo naquele aperto que até o coração, mesmo quando se apega, ofega.
Henriqueta, senão pelo nome e rima, terá mexido com nossa libido, embrionária, ou só visionária. E foi ali, que do alto de minha precoce sapiência - a compensar a ausência da saliência - que sentencei a um atônito Beu, e a uma Quetinha que nem bola deu: Talvez nunca mais tornaremos a encontrar esses parentes.
Para testar a permanência de minha profecia, Beu quebrou-a décadas depois, no mesmo Patafufo, que virara o Pará de Minas, revendo a parentela e achando aqueles sanduíches uma balela.