O encontro
Nena Barros
1 de dezembro de 2014 ·
O encontro
Hoje, lembrando o dia do meu primeiro encontro, percebi que minha vida mudou bastante. Observo também que estava muito aflita e ansiosa, havia um fundo de angústia ou desespero em minha impaciência. O motivo da minha aflição era o horário do tal encontro, dezoito horas, minha ansiedade começava a transparecer. Neste momento minha mãe me olhava, parecia que sabia de toda a minha angústia, eu desvia o olhar desconcertada, não gostava da ideia de estar sendo observada e não podia deixar que ela percebesse o que estava acontecendo, a final de contas nunca entenderia.
Ela sempre dizia que só se devia namorar depois dos dezoitos e contava histórias de meninas que começavam a namorar cedo e perdiam toda a infância. Eu não suportava mais ouvir tantos conselhos, já sabia todos de cor. Ela era sabia de mais, intoleravelmente boa, amorosa e justa.
Eu olhava para o relógio e ficava pensando que em poucos minutos tudo poderia ser diferente, minha vida mudaria por completo, imaginava-me livre com um amplo mundo no qual iria desafogar-me: domingos sem missas, passeios em vez de estudos, caras novas. Como tudo era fascinante que viesse logo! Que as horas corressem para que eu pudesse encontrar logo com meu amor. Que as horas voassem, voassem!
Percebi então que minha mãe já não me olhava mais. Sentia que os minutos não passavam, procurava algo para fazer, contava as telhas do teto, andava de um lado para o outro, mexia em uma coisa ali, outra aqui, olhava para o relógio e o mesmo parecia que havia parado no tempo. Cheguei a pensar que estava com defeito, mas logo vi que não. Começava a irritar-me a sensação que sentia naquele momento.
Não conseguia acalmar-me, as mãos ficavam suadas e frias, o coração parecia que iria sair pela boca, se a hora não passasse morreria ali mesmo. Olhei novamente para a hora e tinha se passado alguns minutos, isso me deu certa tranquilidade por alguns segundos. Veio-me o desejo de sair logo de casa, sair daquele local que me deixava ainda mais tensa e nervosa, mas onde ficaria até dar a hora exata, não poderia chegar primeiro ao local, o que ele iria pensar de mim?
Resolvi deitar um pouco e comecei a pensar como seria o encontro, o que sentiria quando ele tocasse meus lábios pela primeira vez, o que conversaríamos, será se iriamos ficar só nos olhando, olho no olho, sem dizer nada e nos beijaríamos?
Com a mão na grade da cama, travesseiro servindo de colo. Adormeci.