Coisas do subúrbio
Jurema é dessas pessoas que a gente sempre encontra pelas ruas do subúrbio. Faxineira, modesta, de vida pacata que dedicava todo tempo e salário na educação da única filha. Por isto, estranhei encontrá-la naquela manhã, incomodada com a cadeira giratória do salão de beleza.
Como era meio de mês, salão vazio, pudemos compartilhar de uma prosa descontraída enquanto cuidávamos da beleza.
Contou-me muito orgulhosa, que sua filha, Elaine, havia passado no vestibular. Estudaria Direito na Universidade Federal do Estado.
_ Estou tão feliz, dona Rosa, que não durmo a três noites! Falou com os olhos lacrimosos.
Se tratando de filhos a gente voa longe e alto! Toda mãe, nessa terra de meu Deus, vive a tecer os mais lindos sonhos para os filhos. Não me contive e a abracei feliz. E era justificado querer ficar bonita para comemorar o feito da menina.
Quisera eu! A anos que espero festejar também, mas, meu filho João Pedro, ao contrário de Elaine, nunca valorizou o esforço do pai.
Três anos seguidos tentando vestibular, e nada. Um dia, tenho fé, vai acontecer, e quando acontecer não será razão de alegria, mas de grande alívio! Haja dinheiro para bancar tantos cursinhos e apostilas que até penso que deveria existir uma cláusula nos garantindo também, caso os filhos fracassem.
Jurema, mirou-se ao espelho e admirou-se.
_Vichi! Tô parecendo celebridade com esse cabelo alisado.
_Sim! Porém, muito mais feliz!
Marisa Rosa Cabral