Mulher de peito.

Parafraseando Vinicius de Moraes: Marido, por que tê-lo, mas se não o ter como sabê-lo?

Resmunguei pegando minha bolsa e parti rápida ignorando os argumentos incabíveis de Sampaio.

O mau humor que o afligia, se dava apenas, pelo fato de eu ter marcado consulta para Mariana em pleno sábado. Consulta que levou meses para acontecer! E para ele, abrir mão da santa “peladinha” com os amigos aos sábados era um sacrilégio!

Quarenta e cinco minutos de casa até a Clínica, dentro de um “Fusca” apertado e quente, ouvindo Sampaio reclamar, afirmando que todo aquele sacrifício era por pura vaidade! Fiquei em silencio relembrando os meses ansiosos que passei a espera dessa consulta que não perderia por nada. Mariana seria avaliada pelo mesmo cirurgião que a dois anos atrás renovou os seios de Gilda. E, foi a própria Gilda quem agilizou todo processo até então.

_ Ainda que seja, minha filha merece o sacrifício! Falei irritada tentando abrir a janela emperrada do carro.

_ Tolice! O que vai adiantar afinar o nariz da menina com um renomado cirurgião, se o resto da cara não vai mudar? - Mariana começou a chorar e gritar que odiava o pai. A janela não abria, o calor castigava, Mariana chorava e o meu inferno astral chegava ao pico!

_ Mariana não vai crescer atolada em complexos! Já basta ser pobre, pois, para a miséria não tem médico e nem remédio que resolva.

Chegamos bem adiantados a Clínica que já fervilhava de gente falante e ansiosa.

Deixei Sampaio consolando Mariana e fui me certificar das coisas por ali. Furtei disfarçadamente o típico cafezinho da sala de exames e caminhei pelos corredores refrigerados para amenizar a tensão.

Tornei a lembrar dos seios de Gilda. Antes da cirurgia ela se dizia um patrimônio ambulante; tudo tombado! Agora estão lindos de dá inveja! Enquanto saboreava o café, torcia em silencio para que o cirurgião usasse da mesma competência com o nariz chato de Mariana.

Através da vidraça pude observar Sampaio cochilando abraçado a filha de nariz inchado de tanto chorar que lamentei a sorte.

Marisa Rosa Cabral.