621-A PILULA - Uso Geral e Indiscriminado
Passada a surpresa do caso do uso da camisinha, narrado no conto anterior, perguntei à minha cunhada:
—Mas como é que a senhora, pertencendo a uma congregação da Igreja Católica, permite que o uso da camisinha seja divulgado e até ensinado às mulheres do bairro da Boa Vista? Todos sabemos que a Igreja condena o seu uso.
E ela me explicou:
—Sim, na teoria, o uso da camisinha como anticoncepcional é condenado pela Igreja Católica. Mas na prática, não há como fugir da sua disseminação. O único método de evitar a gravidez qie a Igreja Católica permite é o da tabela dos dias de infertilidade.
Concordei com a freira:
—Sim. É complicado.
Ela prossseguiu:
—As mulheres pobres, além de não terem conhecimento necessário, não podem evitar ter relações nos dias férteis. Querem os maridos ou companheiros saber lá se é dia ou não de ter relações?
—Quer dizer que o Papa proíbe, mas vocês desobedecem?
—Pois é.
—Ah, eu só queria entender...
Ela continuou defendendo sua posição:
—A ignorância é grande e não há tempo para educar as mulheres. A pílula é outro método disseminado, também condenado pela igreja. A além de cara, também é difícil de ser usada. Aliás, sobre a pílula também tenho uma experiência interessante, que bem mostra como é difícil lidar com esse assunto com as mulheres muito pobres.
E me contou:
Esse fato aconteceu num outro grupo, para o qual conseguimos de um laboratório o fornecimento de pílulas grátis. Depois, ficamos sabendo que era um produto que ainda estava sendo testado e que as mulheres que tomaram as pílulas foram usadas como cobaias.
Mas teve o lado pitoresco. Com muita dificuldade, controlamos a gravidez de muitas mulheres. Entretanto, aqui e ali apareciam mulheres grávidas, mesmo tomando as pílulas.
Perguntei a uma das estavam grávidas, mesmo com o uso da pílula anticoncepcional:
—Dona Maria, a senhora não tomou as pílulas?
—Tomei, sim, minha fia. Elas são muito boas, e vem muita pílula na carterinha. Intão, dei também pro meu marido, porque assim reforçava o efeito. Mas acabei que fiquei prenha, num sei purcausa de que.
ANTONIO GOBBO
Belo Horizonte,1º. De Setembro de 2010
Conto (mini-conto) # 621 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS