Louise
Sempre sorridente, Louise, a nossa protagonista, vivia a sua vida simples numa cidade também simples no interior do Sul de Minas. Louise era muito bonita, cabelos loiros e olhos castanhos claros como nozes de natal.
Mas tinha um defeito, ou seria esse o pior de todos?, Louise era muito esnobe e não gostava de pedir "por favor", "desculpas" e muito menos, abaixar a cabeça para as outras pessoas, mesmo se estivesse errada, ou seja, não era uma moça nada humilde.
Gozava dos seus bem vividos, em saídas escapadas pela janela de casa, 18 anos quando aconteceu o fato que aqui eu vou narrar.
Era mês de Janeiro, e o sol não estava tão forte assim. Louise acordou bem cedo, penteou os longos 40 centímetros dos cedosos e brilhantes cabelos que possuía e segui para o desjejum.
- Mãe, hoje irei mais cedo para a cidade. Quero encontrar algumas de minha amigas. - Dissera Louise à mãe, em tom autoritário.
- Mas minha filha, os seus primos estão chegando hoje, logo após o almoço! Você não vai dar atenção a eles?
- Eu? Eles que se virem nessa cidadela! Ora, já estão bem grandinhos, Mariana e Lúcio completaram, respectivamente, 11 e 9 anos no ano passado!
- Mas sua prima Geórgia também virá com eles!
A prima Geórgia era a maior rival que Louise poderia ter! Rival por que esta queria, Geórga era do tipo de menia que só tinha boca para comer, respirar, beber e pronunciar as palavras que ela lia de algum livro. Geórgia era dois anos mais nova que Louise, e menos bela que a prima, mas por ser simpática e agradável era sempre a mais vista e requerida pelas pessoas.
- Ara... - Disse Louise com aquele famoso caipirês que todos conhecemos. - Aquela menina virá, já vi que essas semanas com eles aqui serão um verdadeiro inferno!
- Não diga isso minha filha! Sabe, você dizendo assim eu me desanimo em ceder ao pedido de meu irmão! Você soube que seu tio Tadeu e a esposa perguntaram se você poderia ficar esse ano lá na cidade com eles? Só para estudar um curso! E trabalhar, é claro!
Tadeu e Cátia eram os pais de Lúcio, Mariana e Geórgia. Ele era o irmão mais novo de Teresa, mãe de Louise. O que melhor se deu bem na vida, digamos, em pratos limpos, o enriquecido da história.
- Ah, não mãe!!! Eu farei qualquer coisa para poder ficar na capital! Nossa, pelo que a Geórgia me conta, Savassi deve ser muito legal de curtir à noite, e temos o lago da Pampulha para passear, e... Mãe.... - Louise olhou pelos lados e reparou na hora - A que horas eles chegam mesmo?
- Às uma e meia! Você agora vai ficar só em doces com eles não é!? Justo por causa de um raio de um curso!? Minha filha! Aprenda a ser humilde e não tratar bem às pessoas só quando elas te oferecem algo em troca. Um dia você vai se dar muito mal
- Ih, deixe de besteira mãe! Eu sei do que faço de minha vida! Agora deixe-me ir que não vou demorar, chegarei em casa depois deles, mas eu estarei aqui para pegá-los e irmos passear.
- Assim espero! - Finalizou a mãe
Realmente o horário de chegada, passado de Tadeu à Teresa, foi mantido. Pontualidade era uma de suas característas e o mesmo ficava um pouco perturbado quando não chegava no horário marcado.
- Nossa que bom que chegaram! Vão entrando e ageitem suas coisas como bem lhes convier. - Teresa era sempre hospitaleira, e já havia preparado aos menos doce de leite, brigadeiro e quindim; o típico pão de queijo finalizava cozimento no forno e um bom café moído e feito na hora se misturava àquele aroma de sítio em dia ensolarado.
- Bom dia tia! - Lúcio e Mariana disseram ao abraçar, juntos, a tia que mais parecia, pela pequena altura, irmã mais velha deles.
Geórgia, Tadeu e Cátia descarregavam o carro, quando Teresa propôs que a menina seguisse para dentro, e ela própria ficasse ali ajudando ao irmão e cunhada.
- Minha irmã! Não precise de tanta trabalheira. - disse Tadeu.
- É, Teresa, trouxemos poucas coisas, e você, com certeza, preparou um banquete de reis para nós! - A cunhada Cátia presava muito pela saúde de Teresa e adorava se deliciar, à tarde, com os bolinhos de chuva que ela fazia.
Após todos terem comido, guardado suas coisas e conversado sobre como fôra a viagem e coisas do tipo, Louise chega em casa, e corre direto para o banheiro. Teresa já sabia que a filha armava alguma coisa; mas dessa vez a "pobre" menina só queria era corrigir o lápis de olho, que borrara com uma mão que não lhe pertencia.
Saindo do banheiro com a cara mais lavada e inocente que poderia ter, Louise cumprimentou os primos e os tios com sorriso que iam de canto a canto das orelhas.
- Nossa, Louise. Como você está bonita. - Elogiou tia Cátia.
- Que nada tia, você é quem está! - Na verdade Louise pensou em concordar com a tia, mas a lembrança do que a mãe havia lhe dito mais cedo tomou conta dele.
- Oi, Geórgia. Oi, Crianças! - Sorrindo à prima, Louise percebeu uma grande alegria dos três ao vê-la. - Mãe, eu passei aqui para pegar as biciletas e os meus primos.
Teresa olhava ao fundo dos olhos de Louise, sabia que a filha não estava sendo gentil a troco de nada. Arrependeu-se profundamente por ter dito a ela sobre a idéia do irmão e da cunhada.
Cátia interferiu na idéia da sobrinha, pois semanas antes, Lúcio havia se machucado no joelho e bicicleta poderia fazê-lo mal. Com isso, Tadeu preferiu levá-los à cidade, já que para chegar lá fariam um percurso de quarenta minutos, sem contar as subidas e descidas. Assim, ele, Cátia e a irmã, poderiam comprar coisas supérfluas para os dias seguintes. Toparam todos, e subiram na pick up do homem.
Já na cidade, os jovens foram para um lado e os adultos ao supermercado mais próximo. Louise trocava poucas e alteradas confidências com a prima, e os dois mais novos corriam pelas ruelas calmas e silenciosas. Andaram, reencontraram amigos em comum, amigos foram apresentados, fizeram de um tudo, até dar a hora de voltarem para casa. Antes de regressarem, combinaram de, no dia seguinte, se encontrarem com alguns amigos, porém para isso, as crianças também deveriam ir.
Voltaram para casa, fizeram as coisas habituai para se fazer num sítio. As crianças toparam de correrem atrás das galinhas, até que o galo e uma delas se enfureceram e correram atrás dos dois; o que fez o joelho de Lúcio inchar um pouco, mas Teresa fez uma compressa de água quente e ervas e o menino já estava subindo nas janelas e árvores.
Louise cada vez mais falsa, já não suportava ter de estar aturando os três primos e a tia que tanto invejava pela "grana". Comentava, a toda hora e minuto, com a prima sobre seus casos amorosos, o que soltava risinhos de Geórgia. Esta por sua vez, limitou-se a dizer à prima que só havia dado, até aquele dia, dois beijos! E em um mesmo menino. Óbvio que Louise se sentiu vencida por dentro, afinal a camponesa vencia da urbana nesta hora.
Como já estava tarde e o assunto não prolongava para canto nenhum, porque Geórgia parecia viver dentro de uma bolha onde nada acontecia; se bem que talvez ela quem não quisesse mostrar-se realmente à prima, pois vamos lembrar ao leitor que as pessoas mais reservadas são aquelas que escondem os maiores e mais sórdidos pensamentos, mas voltemos ao nosso conto, que eu ainda não disse a lição de moral, mas vou dizê-la no parágrafo seguinte.
Onde estávamos? Ah, sim! Eles acordaram, fizeram tudo às pressas, Teresa, como sempre, acordou com as galinhas e já tinha posto a mesa para o café da manhã. Os jovens engoliram qualquer coisa, eles queriam mesmo era curtir piscina do clube, não que tivesse algo de interessante lá, mas nessa época do ano, e por serem menores de idade, era uma das únicas coisas que tinha a fazer.
Dessa vez foram a pé, Lúcio insistiu para irem assim, dizia que seus joelhos não mais doíam, Mariana também preferiu. Como as crianças, mimadas, insistiram tanto, Louise cedeu, seguida por Geórgia.
- Só não demorem. - Acrescentou Tadeu, enquanto saíam, chamou a sobrinha num canto e lhe deu dinheiro para voltarem numa das charretes, pois sabiam que Mariana e Lúcio não iriam agüentar o pique das outras duas.
Chegaram na piscina, encontraram amigos antigos, fizeram novos, reveram gente que eles não gostavam (na verdade quem não gostava era Louise, mas para não parecer inimiga da prima, Geórgia topou fazer cena, por pouco tempo. - Sabia que essa garota também não era lá uma coisa boa - Comentário meu, o autor). Enfim, divertiram-se além da conta, e, conforme Tadeu havia previsto, os meninos se cansaram tanto que começaram a reclamar para irem embora. Louise, toda posuda para os amigos, mostrando o biquini novo e falando amenidades, não dava bola aos pequeninos, Geórgia percebendo que os irmãos realmente estavam desgastosos, chamou por Louise.
- Ô, prima! Vamos logo para casa, pois o Luca e a Mari estão chatinhos, daí voltamos logo.
- Está bem! - Louise concordou, com um sorriso falso (como sempre) e amarelo à prima. - Não vejo a hora desse pessoal ir embora. - Confessou à uma das amigas.
Mesmo querendo que o povo fosse embora, ela estava adorando estar na aba dos tios, passeios de charrete estariam garantidos todas as vezes que fossem descer sem os adultos e possivelmente restaurantes dos mais caros da cidadezinha ela iria visitar. Ela realmente fazia pose, era uma metida de carteirinha não associada!
Pegaram a primeira charrete que viram. Louise, como sempre toda se sentido a tal, pôs-se à frente, ao lado do condutor, afim de que todos na cidade, por onde passassem vissem que ela estava de chapéu de palha bordado com conchas coloridas, de biquini e canga, seguida por outros três "comuns".
Louise, sorria a esmo, olhava para as pessoas na rua com desdém. Num momento único, a égua da charrete, ao virar uma esquerda, tropeçou-se, levando ao chão a charrete.
O condutor, macaco velho em situações como essa pulou logo da charrete, mas Louise, que só estava interessada em fazer exibição de sua própria figura, não prestou a atenção quando a égua tropeçou. No que deu? Louise perde o equilíbrio e escorrega pela charrete.
As pessoas na rua, ao verem a cena, gargalhavam em alto e bom som. Justamente na rua mais movimentada, a principal da cidade, a égua cismou em tropeçar-se. Os primos atrás, os mais jovens, não tardaram em rir de Louise, só mesmo Geórgia quem havia demonstrado zelo pela prima ao ajudá-la a se recompor, mas feito isso... (falei que ela não era flor que se cheire) riu, mas riu tanto de saírem lágrimas de seus olhos, e gargalhava muito. O condutor logo pôs a égua de pé e prosseguiu com a viagem, para o interesse do leitor, a égua troupeçou-se pois havia ficado com medo de pisar em um dejeto deixado no chão por uma versão masculina sua.
Louise, não tinha mais face, muito menos chão. O escorregão a deixou descabelada e de chapéu no chão. Nunca mais queria descer à cidadezinha. E, pelo menos dessa vez, aprendeu que nunca se deve olhar de cima a baixo quando nós curtimos com a boa vontade e às custas de outras pessoas.
Só para constar, isso aconteceu realmente. Lógico que foram trocados nomes, coisas foram exageradas aqui ou ali, mas não houve mentiras.