IMAGENS DISTORCIDAS

Certo dia nos encontrávamos, eu e alguns de meus colegas, homens e mulheres, na copa do local onde trabalhamos, fazendo o nosso lanche do intervalo da manhã, quando adentrou um senhor da Secretaria do mesmo andar que o nosso e solicitou-nos a atenção.

Pediu-nos um instante de nossa atenção para que pudesse ler umas frases escritas em uma folha de papel, que ele achara em seus alfarrábios.

Já sendo esse senhor “figurinha carimbada” , foi fácil imaginar que boa coisa não seria o que a sua leitura revelaria para nós.

Mal ele iniciou a leitura e não deu outra, ficou patente a inconveniência de sua interrupção.

Dentre tantas outras infelizes citações, consegui reter as seguintes:

 “mulher feia é pior do que bater em mãe”;

 “mulher não vale nada, até pobre tem”;

 “mulher feia e dama não andam comigo na boleia, só na caçamba do caminhão;

 “quem gosta de carniça é urubu”;

 “mulher é igual a lençol: da cama para o tanque e do tanque para a cama”;

 Etc., etc., etc.

Enquanto lia ele olhava em atitude de reprovação para uma colega que manteve o cenho fechado e que continuava a manipular, compenetrada, o seu celular. Certamente o ignaro leitor censurava a atitude da colega, sob seu ponto de vista, inconveniente.

Apesar da desastrosa intervenção, por motivo de educação e respeito à idade avançada do inoportuno, no início deram-se alguma atenção à sua fala. Mas como ela era extensa, retornamos ao nosso objetivo.

Uma vez concluída a leitura de uma das faces da folha, percebendo em nós a indiferença, comentou: “não sei por que vocês estão achando ruim, isso aqui é uma relíquia. Amanhã eu leio a outra parte”.

Constatando não ter mais a atenção da plateia retirou-se, para alívio geral.

Ao mesmo tempo em que reprovo esse tipo de atitude, acho curioso quando pessoas como o citado senhor fazem comentários e afirmações sobremodo descabidas. Principalmente quando se trata de alguém sob vários aspectos tão vulnerável, inclusive o da beleza. Configura-se ele uma pessoa descuidada, decaída fisicamente, inconveniente em suas intervenções, indiscreto e com tantas outras fragilidades pessoais, as quais, por questão de bom-senso e humanidade não convém aqui destacar.

Diante de tais condutas reputo as atitudes do malfazejo como atos de revanchismo, conquanto, por aversões criadas por ele próprio, não recebe a atenção da qual se julga merecedor, por parte das mulheres, apenas o desprezo destas.

Contudo, ao se olhar no espelho, é bem possível que a sua mente comprometida revele para si a imagem distorcida de alguém dotado de inquestionáveis atributos físicos. De tal sorte que ele se sinta tão à vontade para se julgar suficientemente belo, a ponto de criticar a ausência da beleza alheia.

Como diz o ditado popular: “O pior cego é aquele que não quer ver”.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 31/12/2014
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