Panela e barrela
Para se ter uma idéia do brilho das panelas de Isabel é preciso que se remeta ao passado, ou aos tempos em que o fogão a gás não era mais que uma quimera fugaz. E naturalmente, à barrela.
Pois é, era ela, a barrela, sem balela, que garantia uma nitidez daquela. Imaculada e inconspurcada. Fácil de fazer e de aplicar, quem senão Isabel, iria, contudo, com ela se incomodar? Afinal, panela é pra se queimar, se pretear e não se chatear, desde que a mesma preta ou branca, possa bem cozinhar.
Mas Isabel era diligente - e intransigente. Pegava a cinza, que se recolhia no próprio fogão de lenha, botava numa tigela, com água, mexia, revolvia e estava ali a solução que, com o perdão da palavra, ou com a palavra mesmo sem perdão, a bunda da panela cobria, e bem protegia. Ela tinha até um pincelzinho para fazer a aplicação. Antes de ir ao fogo, cada panela, daquelas de ferro, tinha a sua cosmética sessão.
E tá que se cozinha, arroz, carne ou feijão. O gostoso era na hora de lavar, depois da comida: no contato com a água, facilmente aquela capa de barrela se despregava, se diluía e atrás dela, sem esforço, é que brilhava a panela.
E se alguma mancha pegasse, um pretumezinho, ou qualquer sinal de oxidação, tava ali, a areia à mão, daquela de
construção. Arear fazia também parte daquela conjugação. Mas a barrela é que era a melhor proteção.