CAMINHADA NOTURNA NO PARQUE SERRA VERDE

O Parque Estadual Serra Verde foi criado através de um decreto de dezembro de 2007, como uma das condicionantes para instalação da Cidade Administrativa de Minas Gerais – CAMG, em um terreno anexo e localizado na região norte de Belo Horizonte.

Serra Verde é o nome da serra que abriga o parque e que agora empresta o próprio nome a este que hoje é o segundo maior parque da cidade de Belo Horizonte, ficando atrás apenas do Parque Municipal das Mangabeiras, localizado na zona sul da capital.

No seu interior encontram-se várias nascentes, as quais contribuem para reforçar os mananciais da metrópole mineira.

Apesar de as pessoas frequentarem essa Unidade de Conservação, ela ainda não está oficialmente aberta ao público visto que não dispõe da infraestrutura necessária para garantir a segurança e conforto necessários aos seus visitantes. Mas nem por isso a população fica privada de frequentá-la, uma vez que há agendamentos de visitas e visitas guiadas programadas.

Na quinta-feira, 25 de setembro de 2014 foi-me oportunizado participar de uma caminhada noturna naquele parque, programada pelo Instituto Estadual de Florestas – IEF.

Conforme a programação, ainda do lado de fora do parque, os representantes do IEF responsáveis pela nossa expedição se apresentaram, deram as explicações necessárias e esclareceram dúvidas gerais, para, em seguida, iniciarmos a caminhada contemplativa.

Éramos 16 (dezesseis) visitantes, mais o gerente do parque, um monitor e o chefe de brigada recém contratado para a unidade.

Os guias forneceram lanternas de cabeça para algumas pessoas, como forma de dar mais segurança, facilitar a visualização das trilhas e para alguma eventual curiosidade.

Pelo caminho tivemos a visualização de teias de aranha, cupinzeiros, formigueiros e até pequenos peixes no açude.

A certa altura nos deparamos com uma rã assustada, que saíra do lago e se encontrava no meio da trilha, programando com segurança o próximo salto rumo a alguns arbustos.

Provavelmente o batráquio procurava se livrar de algum predador natural.

De repente uma ave saiu voando, indo pousar no alto da copa de uma árvore. Tratava-se de uma coruja de um porte maior do que as costumeiramente encontradas na região. E ela ficou ali a nos observar e nós a observá-la curiosamente.

Continuamos a caminhada e fomos alertados pelos guias de que estávamos chegando à chamada Trilha dos Curiangos, para ficarmos atentos. Isso porque essa ave fica deitada ao solo, imóvel, aguardando a aproximação de alguma presa. E, quando da aproximação desta, surpreende-a garantindo assim a sua própria sobrevivência.

Por outro lado essa ave fica atenta às ameaças e ao menor sinal de perigo, alça voo para um lugar seguro.

Avançamos e vimos a distância um exemplar dessa ave. Ficamos algum tempo observando e ela a nós. Assim que atingimos a “zona de segurança”, o curiango saiu voando e não foi mais visto por nós.

Continuamos a jornada sob aquele céu opaco, totalmente coberto por nuvens, quando, de repente, um pequeno estalido.

Não demos muita importância, afinal o ambiente silvestre tem mesmo dessas coisas.

Adentramos um pouco mais, já com os sentidos voltados para uma eventual nova atração, quando, subitamente, despenca um galho da árvore da qual viera o referido estalido, o que nos deixou um pouco apreensivos.

Esse fato aguçou a nossa curiosidade e passamos a nos indagar se teria sido algum animal que causara a queda do galho, ou se se tratara de mera coincidência.

Em dado momento um dos guias nos mostrou que incidindo luz sobre a relva, veríamos alguns minúsculos pontos brilhantes assemelhados a gotículas de orvalho, mas que se tratavam de pequenas aranhas fazendo morada na vegetação.

Aquela noite meio embaçada, sem a luz das estrelas ou da lua não ofuscou os ânimos amorosos de um casal de calangos que se acasalavam sorrateiramente.

Mas a discrição e anonimato pretendidos pelos répteis, não lograram êxitos desta vez. A lente e o clique indiscreto da máquina fotográfica do líder de brigada, registrou e tornou público o ato de acasalamento.

Contudo, a natureza é soberana e, apesar da nossa intromissão, muito provavelmente, naquela noite, aquele casal reptiliano deu a sua contribuição para a perpetuação da espécie e manutenção do ecossistema em que vivem.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 26/12/2014
Código do texto: T5081358
Classificação de conteúdo: seguro