CALUNDU

CA LUN DU – Tristeza, cansaço, mal humor sem motivo aparente (www.dicionarioinformal.com.br).

Mas, por que falar de CALUNDU?

Explico:

Eu estava prestando serviços de pintura para uma senhora, velha conhecida minha, em sua casa, sita em um bairro tradicional de Belo Horizonte – MG, já há algumas semanas.

Semanas! Não é muito tempo?

Sim! Semanas. Por uma simples razão: os serviços de pintura compõem o rol de atividades extras que eu exerço, como forma de obter uma renda extra. Eu os presto somente aos sábados e feriados. Desta feita só vou à casa dos tomadores dos meus serviços semanalmente ou em feriados, quando há.

Certo dia fiz uma observação, seguida de uma pergunta à referida senhora: Fulano está meio diferente. Será que ele já se cansou da minha presença aqui?

Ela então me respondeu: “não é isso não Rafael, não se preocupe, Fulano é assim mesmo. Ele é muito gente boa, mas às vezes ele fica assim. Eu chamo isso de calundu. Aprendi esse termo com o pessoal do nordeste. É só esperar o calundu passar que tudo volta ao normal. Deixa o calundu passar!”.

Tomara que seja isso mesmo, respondi. Como eu já estou aqui há algum tempo, fico pensando que sou o motivo da tristeza dele. Embora eu procure interferir o mínimo no dia a dia de vocês, eu sei que o simples fato de ter um terceiro compartilhando do mesmo espaço e às vezes limitando-o, incomoda.

Devido à natureza do trabalho, às vezes faz-se necessário interditar áreas.

― Não preocupa com isso não Rafael, está tudo bem. É só o calundu mesmo. Quando é assim eu espero o calundu passar. Espere o calundu passar!

Fiquei ali, ensimesmado por alguns segundos, mas logo retomei aos meus afazeres. Afinal, havia muito ainda a ser feito naquele dia.

Pouco mais de meia hora havia se passado e Fulano chegou da caminhada matinal. Abriu o portão da garagem, adentrou, estacionou o carro, desceu com ar jovial, sorridente e disposto ao diálogo.

Após os cumprimentos mútuos, iniciou conversação bastante amistosa comigo. Daquelas conversas que se tem, quando passamos um longo tempo sem ver a outra pessoa.

Tinha mesmo razão a distinta senhora: o calundu passou!

Pensando bem há dias em que todos nós somos afetados pelo calundu, afinal, humanos que somos, temos nossos sentimentos e fragilidades. Nessas circunstâncias, esperemos o calundu passar!

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 26/12/2014
Código do texto: T5081354
Classificação de conteúdo: seguro