De camelô a prefeito, minha trajetória

eu me chamo Pedro Henrique, não conheci meus pais biológicos e também não sei quais os motivos que levaram minha mãe a abandonar-me naquela manhã num posto de saúde, sei que fui adotado por uma pessoa muito boa e que tinha muito amor para dar e não teve dúvidas, quando se viu numa cadeira na recepçao do posto de saúde com uma criança de seis meses no colo, surpresa e assustada foi para casa, chegando lá, telefonou para para seu irmão mais novo que na certa saberia orientá-la, pois o mesmo era advogado; porém percebeu de imediato que cometera um erro, pois foi orientada à delegacia mais próxima ou ao conselho tutelar relatar o ocorrido e livrar-se do problema, ou seja livrar-se da possibilidade de ter um motivo a mais na vida; ao desligar o telefone Ana repassou em sua mente mais uma vez o filme da sua vida: sendo a mais velha de quatro irmãos, nascera numa família de classe média, seu pai bancario e sua mãe funcionária pública municipal, estudara em boas escolas; católica, sempre acompa- nhava a mãe nas novenas, missas e demais eventos da igreja do bairro onde morava, estudiosa, ao concluir o ensino médio decidiu seguir o mesmo caminho da sua mãe, estudaria Serviço Social, entrou pra faculdade, no primeiro ano conheceu seu marido, estudante de administração, casou-se aos 23 anos, foi muito feliz nesta união, porém não teve filhos e agora viúva aos 50 anos, o Criador lhe abençoa com uma criança e vem seu irmão caçula; só porque é advogado e fala pra ela se livrar daquela criança; estava decidida, já traçara seu plano: iria naquele posto de saúde, levando o bebê, antes compraria algumas roupinhas, tinha a esperança de reencontrar aquela mãe e quando isso acontecesse, se tornaria mãe e avó, o plano era adotar os dois mãe e bebê, cuidaria dos dois; pensando nisso adormece e sonha que agora estava perante um juiz argumentando suas razões porque desejava adotar aquela criança; no sonho ficava aguardando a decisão do magistrado, mas no seu coração o menino já era seu, escolheria um nome bonito homenageando São Pedro, de quem era devota e Henrique em honra ao seu falecido marido, estava decidido o nome do menino seria: Pedro Henrique, quando Ana despertou daquela soneca ali na sala; lembrava do sonho e estava muito impressionada e decidida; colocaria seu plano em prática imediatamente.

Passados 30 dias, Ana tinha estado naquele posto de saúde pelo menos 22 dias, nesse intervalo de tempo fizera amizade com uma enfermeira que levou o menino para ser avaliado pela pediatra de plantão. Ana por sua vez estava decidida a criar aquela criança, como se fosse seu filho; iniciou uma peregrinação pelos órgãos públicos, utilizando sua experiência e seus contatos da época em que trabalhara como Assistente Social, não teve dificuldades em conseguir seu objetivo. Pedro Henrique era seu filho no coração e no cartório. O menino crescia em estatura e inteligência. Ana tornara-se uma mulher realizada e muito feliz.

Agora estou aqui aos 17 anos, trabalhando como menor aprendiz num banco, até já contei prá D. Glória da contabilidade que meu avô também foi bancário. Sempre vai lá agência um pessoal do sindicato fazer entrega do jornal informativo; num desses dias, encontro um colega do cursinho fazendo essa distribuição, isso reforçou um pouco mais nossa amizade; ele quer estudar administração pública, fala que quer fazer carreira política, eu por minha vez vou ser advogado e falo para ele: DESISTA, você não tem perfil de político; neste intervalo de tempo meu contrato finda, saí do banco, estando desempregado, prestes a entrar pra faculdade, fico preocupado e confidencio ao meu colega do cursinho. Ele cheio de boas intenções me apresenta seu irmão mais velho que era proprietário de uma banca de revistas na avenida, no centro da cidade, o mesmo me passou a idéia de vender alguma coisa ali ao lado da banca, pois o espaço estava vago, antes havia sido ocupado por um vendedor de óculos de sol. Fui prá casa pensando no que vender, quando desembarquei do ônibus, uma pessoa me entrega um folheto de uma distribuidora de roupas íntimas. Lendo aquele papel, decidi qual seria a minha mercadoria; como possuía uns trocados e com a ajuda de minha mãe e do meu tio advogado que também é meu padrinho, juntei o capital e me tornei microempreendedor, diga-se CAMELÔ; comecei a atividade e com pouco tempo de trabalho já estava pagando os empréstimos do meu padrinho e da minha mãe, fiz a inscrição para o vestibular, fiz as provas fui aprovado me matriculei no curso de direito. Fiz amizade com vários outros camelôs, estava trabalhando num dia pela manhã quando fui visitado pelos fiscais da prefeitura, o famoso RAPA, como eu guardava minhas mercadorias na banca de revistas, não foi traumatizante essa primeira vez, e a vida seguia em frente; fazendo novas amizades na universidade e com a ajuda do meu amigo do sindicato comecei a articular a criação da associação dos camelôs que depois virou sindicato, sendo eu seu primeiro presidente. Por volta do terceiro semestre aconteceu um segundo fato que mudaria minha vida, conheci a MARINA, caloura, moreninha, estatura média, olhos castanhos e um sorriso amoroso e amistoso, me rendi aos seus encantos; recebi mais uma visita do RAPA, desta vez além de confiscarem todo a minha mercadoria também me forçaram a agredi-los verbalmente e num momento de indignação falei alto para que todos ouvissem: VOU ACABAR COM VOCÊS. Era o desabafo de um subjugado, de um impotente de mãos atadas; e a vida seguia. Na visita seguinte decidi não permitir que levassem a minha mercadoria, então me abracei aos sacos das mercadorias; ali estavam todas as minhas economias, pois havia feito uma compra grande pois era uma data festiva, naquele momento em que eles disseram que levariam minha mercadoria fiquei desesperado abraçado aos sacos de mercadoria não permiti que eles efetuassem o recolhimento da minha mercadoria, gritei mais uma vez para eles, VOU ACABAR COM VOCÊS, além de chamá-los de puxa-sacos, incompetentes, quando falei LADRÕES recebi um safanão e fui imobilizado e seria levado pra delegacia onde eles registrariam a ocorrência, num vacilo que ele deu, eu apliquei uma cotovelada nas costelas que ele precisou ser socorrido e eu fui levado pra delegacia de polícia mais próxima, sendo recolhido ao xadrez sob a acusação de pertubação da ordem e agressão física a agente público no cumprimento do dever. Foi tamanha a agitação, a repercussão que no dia seguinte todos os jornais traziam a notícia: PRESIDENTE DO SINDICATO DOS CAMELÔS, AGRIDE O RAPA E VAI PRESO. Este episódio despertou em mim a veia política, lá naquela cela fria passei 3 dias e 3 noites, onde em prantos, envergonhado decidi que ao sair dali mudaria de atividade e mais uma vez fiz a ameaça de acabar com o rapa, decidi que me candidataria a vereador e concentraria minhas forças para acabar com o rapa. Meu tio e padrinho junto com um dos meus professores conseguiram me liberar do xadrez; ao sair do prédio do lado tinha um grupo grande de pessoas gritando meu nome, eram colegas da faculdade, camelôs, rodoviários, gente do povo. Tudo isso arquitetado pela minha namorada, ela encabeçara um movimento que chamou a atenção da imprensa. seus pais não aprovando sua atitude ameaçaram deserdá-la, caso persistisse nessa insanidade, expor o nome da família dessa maneira. E a vida seguia, oficializei a minha candidatura a vereador recebendo apoio dos camelôs, dos colegas da faculdade de boa parte de simpatizantes, até do meu sogro, pois tinha interesses na prefeitura. Enfim chegou o grande dia fui eleito o vereador mais votado. E a vida seguindo em frente, fui assediado pra sair candidato a prefeito, após conversar com a minha mãe ANA e com a MARINA agora minha noiva, decidi ir pras urnas candidato a prefeito nesse tempo minha mãe faleceu; e a campanha seguia forte, um dia minha noiva perguntou-me ¨Se fosse eleito, após a posse qual seria meu primeiro ato. Respondi-lhe ¨acabar com o rapa.¨Naquele momento passou um filme na minha cabeça: lembrei de todas vezes que prometi acabar com o rapa. Chegamos ao grande dia, fui eleito e daí a alguns meses tomei posse e na primeira reunião expus a minha intenção e solicitei ao meu assessor jurídico a redação do primeiro decreto. E fui empossado no cargo de Prefeito Municipal e o primeiro decreto foi:

O PREFEITO DESTE MUNICIPIO, USANDO DAS PRERROGATIVAS QUE LHE SÃO CONFERIDAS PELA LEI ORGÂNICA MUNICIPAL

R E S O L V E

Extinguir em caráter definitivo a policia administrativa (RAPA) e que seus integrantes sejam colocados à disposição do GABINETE DO PREFEITO MUNICIPAL, sem prejuízo da remuneração a que fazem jus.

Ficam revogadas todas as disposições em contrário.

PUBLIQUE-SE

Ass. Prefeito Municipal

No dia seguinte foi um alvoroço no prédio da prefeitura municipal e eu

experimentava uma sensação mista de satisfação e de vingança, fiz um

mini discurso no que seria uma entrevista coletiva, onde deixei bem claro que estava cumprindo aquela promessa e aquela ameaça de quando era camelô na avenida.

Encerrei a miha carreira política um dia após ter empossado o meu sucessor.

Ivanoel
Enviado por Ivanoel em 25/12/2014
Reeditado em 25/12/2014
Código do texto: T5080884
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