NATAL 2014
CONTO DE NATAL
Natal, final de ano...
Ano Novo, vida nova, período em que a esperança renasce no coração, na vida daqueles que acreditam existir um mundo melhor, no viver dos que perderam fios de esperança... dos inacreditáveis, dos maltratados, dos marcados pelo sofrimento, dos vitoriosos e dos derrotados... a todos estes e a todos aqueles que ainda trazem dentro de si o verdadeiro espírito natalino na certeza de que esta vibração de amor possa transformar pequenos desejos em grandes realidades e que o futuro se faça presente sempre, não somente no coração de cada um como também na alma de todos nós, um FELIZ NATAL.
Inspirando-me nos noticiários de cada dia que caminha, vida minha selecionar procura e, motivado por um fato que muito me emocionou, eis que digito ipsis litteris o que li e reli, cujo título escolhi:
O MILAGRE DE NATAL
Não pensem que irei narrar um conto de fadas. Uma bela adormecida que de tanto dormir, acordou ou amantes separados se unindo novamente para mais tarde outra separação acontecer. Mas a vida não é um conto de fadas, é um conto de fatos... finais felizes são poucos e raros. Muitos dos personagens travestidos de bondade tornam-se tiranos que podem provocar guerras entre seus súditos...
É por isso que precisamos de exemplos que edificam, para lembrar que apesar de tudo o amor pode nascer nos locais incertos e improváveis. O José Guilherme é o personagem central desta narrativa, motu único desta aventura que me proponho a divulgar. O começo de vida deste personagem foi uma espécie de conto de fadas e, à medida que crescia em idade, crescia em sabedoria e aprendizados. Desde tenra idade, Guilherme dedicara-se à prática de arte marcial tornando-se um exímio lutador. Poucos anos mais tarde tornara-se famoso em todo o Brasil e no exterior nesta modalidade esportiva. Belo rapaz, assediado pelas garotas, admirado por sua maestria em lutar com elegância e destreza, tornara-se grão mestre e dono de algumas academias na zona sul do Rio de Janeiro. José Guilherme o venturoso, o herói dentre os heróis, verdadeiro em seu anseio de realização e louvor. Desde criança, seguindo orientação dos pais, Guilherme frequentara a Igreja Católica, respeitando os ensinamentos e seguindo os ritos ministrados por padres e aprendendo os coisas da religião no Colégio Santo Inácio, na zona sul da cidade. Até mesmo quando tornara-se adulto, jamais abandonou a prática religiosa.
Casado, realizado financeiramente, o jovem senhor José Guilherme jamais poderia imaginar o que iria acontecer em sua vida plena de realização e felicidade. Pois é, meu amigo leitor, e minha amiga leitora, um longo período de provação se abatera sobre a vida deste nosso herói. Uma pesada cruz lhe fora imposta pela fatalidade de um acidente automobilístico que o deixara imobilizado durante dois anos devida a fraturas nas duas pernas, sendo submetido a uma série de operações para recuperar a gravidade daquele acidente. José Guilherme, o acidentado, no vale das sombras envolvido, desesperado, nem pensar queria pensar, tomado por uma surda revolta, a sua vida em um inferno se tornou.
Após dois anos de uma sofrida recuperação, sem nunca mais poder concorrer a lutas oficiais, sua vida entrou em um tremendo declínio, uma grande provação o esperava. Sem academia, sem alunos, sem dinheiro, desesperançado, optara pelo alcoolismo e pela droga. Afundado numa total decadência, desmotivado, revoltado, procurava na droga e no álcool fugir deste seu drama desesperador...
Exemplos semelhantes encontramos em várias celebridades pelo mundo afora: Garrincha, por exemplo; o jovem José Artur Machado, o Petit, era o símbolo da geração dos jovens bronzeados, surfistas da praia de Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro. Coisas da moda: livre, solto, sem outro compromisso que a vida senão viver – viver intensamente. Petit foi imortalizado pelo cantor Caetano Veloso, que se inspirou em sua imagem e, em 1979, compôs MENINO DO RIO, clássico da música popular brasileira na voz de Baby Consuelo. Na garupa de uma moto, na madrugada de 29 de agosto de 1987, sem destino, rasgando uma dolorosa noite interior à procura de si mesmo, encontro através do brilho do pó, Petit sofreu um acidente. A violenta pancada da cabeça contra o asfalto, deixando-o deformado, com o lado direito do corpo, rosto e boca paralisados. Sua vida tornara-se insuportável já que as mulheres – todas as mulheres o chamavam de mel. Mais que um homem de pele dourada, loiro, 1,80 metros e físico forte, ele era uma criança indefesa, os olhos perigosamente verdes... Sem conseguir tornar-se adulto, Petit matou-se. Enforcou-se com a faixa do quimono de jiu-jitsu, o nó preso pelo lado de fora do alto da porta fechada do apartamento. Petit foi encontrado como na música de Caetano: “calção, corpo aberto no espaço”.
À semelhança dos muitos outros, José Guilherme tornara-se revoltado com a vida que levava, afinal, era duro perder tudo: fama, glória, beleza e, acima de tudo, dinheiro. Viciado na cocaína, José Guilherme subia o morro à procura desta droga que o “fazia esquecer o sofrimento”. Em uma dessa incursão, à véspera do NATAL, a quase fatalidade aconteceria: jovem ainda, loiro, conservando o físico atlético, um traficante o confundiu com um policial e, com arma apontada para Guilherme, ordenou que o mesmo ficasse de costa.
- Já que vou morrer, pode atirar de frente – respondeu Guilherme – afinal, a minha vida é de pouca valia. Ninguém sentirá a minha falta! Pode atirar!
Meu Deus, viver é um milagre! Por que desperdiçar o milagre? Atravessando todo este vale das sombras, José Guilherme, sofrido sofredor, já sem vontade de viver, encontrou você e você já estava em sua vida para nunca mais o largar!
Naquele momento decisivo da vida de José Guilherme, Deus não o abandonara, tocado por uma força divina, eis que surge outro traficante e impede o assassinato exclamando:
- Que é isto? Conheço este cara! Ele não é policial porra nenhuma! Ele o um famoso lutador que muito o admiro!
José Guilherme, naquele momento, sentira a presença de Jesus com toda a sua glória! Desceu o morro ou foi levado por um anjo? Ele nem lembra como, nem seria necessário saber... Simplesmente, à luz da Fé, decidira-se nunca mais subir o morro à procura de drogas ou morte lenta... Voltar ao começo, por que não? Ao começo Guilherme voltou. Começar de novo, escrever uma nova história, da vida de sua vida, porque, mesmo na desgraça e no desengano, ele conseguiu manipular os próprios desenganos. E sua alma passeia onde ele quer, e se revela capaz de voltar a si mesmo com o mesmo querer.... O que fazer nesse tempo em que espera por essa felicidade renovada na facilidade do recomeço?... Guilherme se fez sincero... Onde estava esse olhar que conhece o seu nos duros momentos de provação que suportara? Revoltado, sem querer se entregar Guilherme já se encontrava ao lado seu. E assim seguirá por todo o tempo da delicadeza...
Que é o natal, senão um misto de amizade e amor? Um Jesus que nasce repartido em todos os recantos do mundo, todo presente em cada lar, em cada família, entre amigos, todos aqueles que estão conosco, os que comungam do mesmo espírito de Fé, em todos os momentos da nossa vida, bons e maus, que se regozijam com a nossa felicidade e se entristecem com a nossa desventura...
José Guilherme, tocado pela luz do Espírito Santo, hoje voltou à mesma igreja que frequento, ao redil do Senhor de Todas as Coisas, Senhor de sua vida, distanciado dos vícios e amado por todos nós, é um companheiro agradável e, à feição de Jó, está recuperando sua vida com sacrifício, determinação e muita FÉ.
Fiz esta apresentação para melhor relatar a grande experiência vivida por um herói em sua pobre vida.
Jesus nasceu!
Para quem Jesus nasceu? Muitos, à semelhança de Herodes, não conseguem entender os sinais das estrelas e continuam abandonando milhares de crianças pobres deste Brasil-Belém, futuros traficantes, viciados, ladrões, culpa exclusiva desta humanidade desumana... Corações- hospedarias estão superlotados de ganâncias, ódio, egoísmo. Não há lugar para Jesus! Os poderosos estão cegos. A simplicidade do Rei do Universo confunde os homens...
Espero que tenham gostado deste meu depoimento.
Carlos Lira