ERA 12 DE OUTUBRO
Atravessávamos, eu e minha filha Mariana de 14 anos, a praça que dá acesso à rodoviária.
Ouvíamos repetidos gritos: “Ponte Nova”, “Sete Lagoas”, “ Divinópolis”, “Ouro Preto”, “Curvelo”, “Barão de Cocais” e outras, quando minha filha interpelou-me:
-Pai, por quê eles estão gritando os nomes dessas cidades?
- É para conseguir passageiros para eles mesmos transportarem. Isso acontece pela total ausência do Poder Público.
- Como assim?
- De vez em quando você não ouve falar de acidentes envolvendo vans, ônibus e até automóveis praticando o transporte clandestino?
- Sim...
- Pois é, apesar de ser proibido os nossos governantes fazem vistas grossas, omitem-se, permitem.
- Você está vendo algum policial militar por perto?
- Não.
- Houve um tempo em que, daqui onde estamos até a rodoviária propriamente dita, podíamos contar mais de 10 (dez) policiais militares.
Essa conivência com o ilegal já é parte da artimanha. Assim, quando algum órgão de imprensa for tomar satisfação junto às autoridades responsáveis, elas ficam mais à vontade para dizer que não viram nada, que não sabem de nada, que a nossa cidade é muito grande e que é “impossível” fiscalizar tantos lugares ao mesmo tempo.
Como você pode observar basta uma ação localizada aqui na rodoviária e no seu entorno, para que isso não aconteça.
Não é só em relação ao transporte clandestino que se pode verificar tal ausência do Poder Público. É assim em relação às drogas, à marginalidade, à corrupção, aos moradores de rua, aos flanelinhas, às enchentes, às invasões de propriedades por oportunistas e outros tantos exemplos.
A título de exemplo, observe a situação do Anel Rodoviário de Belo Horizonte; foram necessárias duas ou três décadas de descaso para que se chegasse a esse ponto de degradação. Isso não passa de manobra política, para, tendo como pretexto a urgência e a preservação de vidas humanas, aprovar projetos sem licitação e sem o necessário critério técnico. Assim é mais fácil a prática do superfaturamento, da corrupção, do favorecimento e viabilização da necessidade de sucessivas, ineficazes e caras obras de adequação.
Fecham os olhos para tudo, deixam o mal tomar dimensões incontroláveis, sem se importarem com o sacrifício de tantas vidas.
Com isso aumenta mais e mais o tamanho da máquina pública, o que, resulta, consequentemente, na necessidade de elevação de alíquotas e criação de novos impostos.