E agora Santa?
Raimunda já havia tentado de tudo. Banho de hortelã, gengibre, agrião, compressa de água fervente e até limão assou e deu para o enfermo comer. Rodelas de batata na testa e nos pés também não adiantaram. Com tantas paisagens, sossego e pureza, a roça tem lá suas desvantagens: não haviam hospital e nem médico por perto. Mas tinha Santa, a comadre de seu irmão, que apareceu com o marido e toda sua antiga sabedoria. Raimunda os recebeu e os levou logo pra ver Zazá. Estava deitado na cama, todo embrulhado, pegando fogo e gemendo de dor. Três dias nessa agonia sem um sinal de melhora. Na rua mesmo Santa havia pegado um ramo verde, e com ele passou sobre o doente fazendo os sinais da cruz e entoando a oração. Mas vendo que não se tratava de simples febre, a benzedeira, bem prevenida, tirou da sacolinha os apetrechos de benzedura forte e começou o ritual. Do frasco um pouco de azeite de oliva, um pouco de sal e ramo de alecrim, a arruda estava começando a murchar, mas ainda dava, agora só faltavam as folhas de guiné. “Óleo de mirra, terço e crucifixo, ai! Deixa-me ver, um pouco de pega-pega, agulha e um novelo de linha de algodão. Pimenteira pra ambiente ruim, vish! Já secou. Até muda de Espada de São Jorge tinha, mas nada de guiné! Raimunda! - gritou a benzedeira à comadre, que botava a água pra ferver - Deixei tudo na casa de Rosa, pra fazer chá pro compadre João que não parava de tossir.” A mulher do enfermo perguntou se o que tinha já não ajudava, Santa meneou a cabeça dizendo que não. “Posso rezar três ‘Creio em Deus Pai’, cinco ‘Pais-nossos’ e dez ‘Ave-marias’ em louvor a São Camilo, mas é só.” Disse a benzedeira. “Ai Nossa Senhora! E se Zazá não melhorar comadre?” Perguntou Raimunda aflita. “Daí só resta ter fé, muita fé!”