SEU NOME É JOÃO

João é um homem simples e muito feliz. As pessoas simples que o conhecem gostam dele. Nasceu no dia 5 de agosto de 1979, numa localidade qualquer de um município qualquer brasileiro, no primeiro dia da semana: domingo. A natureza não lhe deu uma bela aparência exterior, segundo os frágeis padrões da sociedade na qual ele vive. Quem vê esse homem não diz que ele possui alguma inteligência, algum dom especial, pois as aparências contam muito neste mundo.

Certa vez, ao ser contratado para trabalhar em certo lugar, um amigo de João que trabalhava nesse local disse aos colegas: “Tenham muito cuidado com João! Pois ele pode enganar muita gente. O jeito dele é simples, mas ele é um homem esclarecido e...” Foi esse mesmo amigo quem contou isso a João. O amigo desse jovem já imaginava que algumas pessoas poderiam julgá-lo pelas aparências; poderiam rir dele e considerá-lo um indivíduo despreparado e sem importância. As pessoas daquele local foram alertadas. Assim, o homem simples não encontrou resistência, nem preconceito daqueles colegas temporários. Pelo menos, nada disso foi percebido. Se houve, tudo ficou muito camuflado.

João gosta do silêncio, fala pouco, até mesmo em casa. Desde criança que esse é o seu jeito. No entanto, quando há necessidade, ele fala, ele se expressa, com clareza e segurança; sabe falar; não tem vergonha de falar. Talvez esse homem siga um ensinamento de um ex-escravo, um filósofo antigo chamado Epicteto, que diz: “Esteja em silêncio na maior parte do tempo, ou, se tiver de falar, fale apenas aquilo que é necessário e em poucas palavras. Fale, mas raramente, se a ocasião assim o exige, mas não fale de coisas ordinárias... e se você, por acaso se encontrar no meio de estranhos, permaneça em silêncio”. Esse ensinamento se encontra no “Manual”, do pensador Epicteto.

Há alguns meses, esse homem simples começou a trabalhar em certo local desconhecido por ele até então. Lá, ninguém o conhecia. Nesse lugar, há pessoas boas, simpáticas, maduras, equilibradas, amigáveis, respeitáveis. Entretanto, João começou a receber algumas brincadeiras de duas pessoas. Chegaram até a perguntar se João é virgem. Certa vez, chamaram-no a um local especialmente para fazerem esta pergunta: se ele seria virgem, mesmo ele sendo desconhecido naquele local e por aquelas pessoas. Essa pergunta a um desconhecido é, no mínimo, estranha, muito estranha, além de ser precipitada. Isso é uma VIOLAÇÃO DA INTIMIDADE DE ALGUÉM, ALÉM DE CERTA ZOMBARIA, dependendo de como se faz a pergunta e a quem se faz.

Alguém que trabalha na coordenação daquele local, uma pessoa por quem João já tem um grande respeito, percebendo essas atitudes dirigidas a esse homem, pediu que ele não se preocupasse com aquelas brincadeiras; que relevasse. João disse que tudo bem! Ele iria ver até onde aquelas pessoas iriam. Ficaria apenas observando, escutando.

Após mais ou menos três meses, as brincadeiras, no mesmo sentido, permaneceram. João já havia se manifestado contra essas atitudes. Uma das duas pessoas principais dessa história foi confrontada por esse homem simples. Ele mostrou seus conhecimentos e sua postura a respeito de relacionamento e de vida. Disse que aquilo devia parar, que estava se tornando algo chato. Diziam que desejavam encontrar uma namorada para João, sem ao menos conhecê-lo, sem ao menos perguntarem se ele tinha namorada. Talvez o aspecto físico desse homem já mostre que ele não tem namorada. Talvez seja por isso que não perguntaram se ele tinha namorada, como, de fato, não tem. Porém, a pessoa confrontada não mais insistiu no assunto. Quando é para enfrentar, João enfrenta o que for preciso e possível. Ele não se faz de vítima. Ele sabe se defender e combater.

No dia 11 de dezembro de 2014, a outra pessoa dessa história, sorrindo, diante de João e de outras seis ou mais pessoas, disse que queria namorá-lo, além de, antes, ficar convidando esse homem para festas, ambientes que ele já afirmou não frequentar. João olhou para um colega e disse à mulher: “Olhe! Você pode namorar fulano. Vocês combinam; ele é extrovertido”. A mulher, no entanto, rindo, insistiu e disse: “Eu quero é tu”. O jovem falou que “brincar é normal, brincadeira é algo normal, mas a mesma brincadeira, quando repetida várias vezes, se torna uma chatice”; que aquilo já estava acontecendo há três meses. O jovem disse que relacionamento é coisa séria; que, naquele momento, aquela mulher precisava de “uma lição”.

Conversa vai, conversa vem, ela afirmou: “Os calados são aqueles que mais escondem as coisas; dão o tapa e escondem a unha”. João, em voz alta e com segurança, sem medo e seguro, assegurou: “Se você me conhecesse, você saberia que eu não sou um homem de esconder o que penso e o que sinto. Se você me conhecesse, você não me desafiaria”. Ela disse: “Tu, também, não me conhece”. E se retirou do ambiente; não aguentou.

Há mais ou menos 3 (três) meses que esse Jovem procura rir diante dessas brincadeiras repetidas, para preservar o equilíbrio e o bom senso. No entanto, há um momento em que é necessário mostrar o combatente que há em si mesmo. Ninguém deve aguentar intolerância e preconceito. Não se pode nem se deve brincar do mesmo jeito com todas as pessoas. Devemos saber com quem estamos brincando e que tipo de brincadeira fazemos. O bom senso é algo fundamental na vida de qualquer ser humano.

João não se preocupa com quem vive no barulho, com quem é diferente dele, pois cada pessoa é e deve ser um ser único. Da mesma forma, João deseja ser respeitado no seu modo de ser, no seu silêncio. A sociedade precisa aprender a conviver com as diferenças.

João é diferente na maneira de pensar, de viver e de agir. Ele busca, constantemente, o aperfeiçoamento pessoal. Esse seu jeito incomoda muita gente. O olhar desse homem já mostra que ele é diferente.

Há pessoas que se aprazem em rir de outras. Há pessoas vazias e fúteis que se acham muito espertas, e só têm um corpo para exibir; pessoas que precisam rir de outras para se sentirem bem; pessoas ineptas e preconceituosas, incapazes de refletir e de fazerem um encontro consigo mesmas. O mundo está cheio de gente fútil e iludida a respeito de si mesma; que imagina ter uma superioridade que nunca terá; gente que julga pelas aparências, e não olha o que as pessoas são: seres humanos. Pessoas que não conseguem dialogar, nem se informar sobre quem imaginam conhecer. De repente, se encontram diante do que não imaginavam se encontrar. Há muita gente que não faz um mergulho em si, nem sabe o que é mergulhar em si mesmo. Quem se conhece não ri de ninguém, mas de si mesmo.

A história continua. Depois, continuarei a contar essa história fictícia. Daqui a alguns dias, teremos o capítulo O MICROFONE E JOÃO. Teremos uma surpresa que João causou há uns dez anos, mais ou menos.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 12/12/2014
Reeditado em 12/12/2014
Código do texto: T5066638
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