confiar, desconfiando (mini conto)
Os dois se conheciam há pouco tempo – nunca viram os filhos do outro -, nem sabiam onde o outro trabalhava, mas, mesmo assim, esforçavam-se para firmar a relação, tendo a confiança como alicerce. Namorando, entre um carinho, um beijo e uma conversa fora do circuito, ela diz a ele que a filha tem problemas com um professor, que a corteja, na Universidade, e que, por isso, ela, assumindo as dores da filha, também não fazia melhor juízo do mestre; ele, por sua vez, comentou que o filho também se incomodava com os olhares atrevidos daquela senhora, funcionária nova na empresa onde ele trabalhava. Concordaram em gênero, número e grau que os filhos estavam sendo assediados, e que no mundo atual pessoas mais velhas forçam aproximação com os mais jovens, o que não era o caso deles, pois eram maduros e se escolheram. Confiavam no outro e repudiavam aquele disparate. Um dia, “sempre assim”, casualmente, ela leva a filha na Universidade e ele leva o filho ao trabalho. Encontram-se. Ficam sabendo que eles são os protagonistas. Não há relação que suporte. Aprendem de vez que nem sempre se fala e se ouve só verdades, principalmente, que se deve confiar, mas desconfiando.