UM POLACO FORA DA CASINHA

Já o conhecia da confecção que mantinha na cidade.

Roupas e ternos em geral confeccionados de acordo com o gosto do polaco que chamaremos de Ildemar Theilowski.

Camisas amarelas, roxas, pink, azul anil e verde bandeira eram as suas prediletas.

Os colarinhos sempre de outra cor contrastando com a camisas...um horror!!!

Nas festas de fim de ano na brincadeira do amigo secreto (ou inimigo?) elas ficavam em alta, vários colegas de trabalho adquiriam as “festejadas”camisas para presentes(sacanagem)

O pobre do polonês sempre achava que estava de acordo com a modernidade e sua mulher, a Dona Nally (como ele a chamava) concordava com o “bom gosto”do consorte.

Na época eu trabalhava num Banco e para complementar a renda tinha uma carteira de capitalização da Sul América e o dito cujo era um dos aplicadores mensais (na época eles não depositavam em banco, tínhamos que cobrar e prestar contas ao final de cada mês à empresa –  haviam sorteios em dinheiro para quem mantivesse as prestações em dia).

Certo dia cheguei na  confecção do Sr. Ildemar, e como ele estivesse com alguns atrasos procurei explicar das vantagens de manter sua situação perante a investidora em dia.

Ele me atendeu e eram aproximadamente dezessete horas, a loja fechava às 19,30 h.

Expliquei a questão !

- “Chovem amigo, declarou: xá termin expiente” -  vociferou...

Que fazer, coloquei a papelada na minha pasta e tratei de correr atrás de outras cobranças, mas...

havia um senhor ao meu lado querendo acertar as contas da confecção de um terno.

Ele ouviu a afirmação do Sr. Ildemar e disse: amigo, então vou passar em outro dia para acertar...

- “Putcha la vida”, nada disso “fregueis”o caixa de pagamento está fechado mas o do recebimento está funcionando muito bem...vamos lá acertar...

Era “liso”aquele polaco...

Mas a confecção “tocada”por ele e por sua mulher (eles tinham o primário incompleto, mal sabiam escrever seus nomes)...

FALIU!!!

Mudaram-se do centro da cidade para um bairro próximo.

Abriram um”botecão” com tudo que tinham direito: amplo balcão, banheiros asseados, congeladores, mesas, banquetas, iluminação de boate, som e delicioso cardápio acompanhado de finas bebidas, um show...

Nossa turminha comparecia todas as sextas-feiras – dia que havia show de “strip tease”no ambiente (logo interditado pela polícia local – sacanagem de denúncias de vizinhos moradores invejosos)

Mas Ildemar era simples, trabalhador, procurava divulgar seu empreendimento!

- Na calçada frente ao “botecão”sempre haviam avisos, comunicados: escritos a giz pelo proprietário:

- “Oxe, tem aquela que fosse gosta: lingüiça preta.” É das grande...venha provar...

- Vendemos “serveja”no fiado prá quem é honesto, só pedimos prá devolver as “garafas limpas e interas”.

- “Cumunico que famos atendê até o último fregueis sair...”

Assinado: O próprio otário.

Eram uns coitados, mas bem ou mal deram estudos ao casal de filhos.

Nas conversas de balcão um dia perguntei-lhe: como era a Dona Nally (queria saber sim do relacionamento afetivo e do cotidiano do casal)

- “Xente”vou contar só prá voceis:

Dona Nally "tem pentelha da joelha até o piscoço...cabeluda, cabeluda...”

Ele não sabia das gozações as suas costas, era muito hilário.

Certo dia ouvimos barulho no fundo do bar, garrafas quebrando, uma praga rogada, gato miando...uma estrepolia só...

- Meu amigo perguntou: “o que é isso Ildemar”???

- “Puta que parriu, são os catos, são os maltidos catos traveis...”

Na verdade o gato era seu vizinho, dono de um moinho que pulava com freqüência a janela do “botecão”para “fofar”a madame...

Ildemar sabia, mas porque reclamar, Dona Nally afinal merecia carinho e ele “broxa”não podia lhe proporcionar.

Eram felizes ao seu modo.

E ela tinha um fogo!!!...seus bigodinhos até eriçavam de tesão...

Quando Ildemar em algum final de semana resolvia pescar com amigos, avisava o vizinho do moinho: cuide de Dona Nally prá mim?...

Claro que ele cuidava, e muito!!!

Na pescaria ele proporcionava: condução,barracas, comidas, bebidas, som e tralhas de pesca,  sentia-se o dono do mundo.

- Liberdade, “xente”, viva a liberdade proclamava...

Na madrugada, depois de muita bebedeira e comilança ele suplicava ao motorista Lenício:

- preciso cagar no mato, me leve até lá e acenda a lanterna...tenho medo de ir sozinho, pode ter cobra e algum fantasmas.

E lá iam os dois, Lenício com as narinas parcialmente tapadas pelas mãos ao final estendia o papel higiênico pro parceiro.

Tem muito mais estória prá contar.

Creio que o personagem deste conto já abotoou o paletó!

Que ele descanse em paz longe destes fofoqueiros de plantão!!!