![](/usuarios/2649/fotos/1047492.jpg)
UM POLACO FORA DA CASINHA
Já o conhecia da confecção que mantinha na cidade.
Roupas e ternos em geral confeccionados de acordo com o gosto do polaco que chamaremos de Ildemar Theilowski.
Camisas amarelas, roxas, pink, azul anil e verde bandeira eram as suas prediletas.
Os colarinhos sempre de outra cor contrastando com a camisas...um horror!!!
Nas festas de fim de ano na brincadeira do amigo secreto (ou inimigo?) elas ficavam em alta, vários colegas de trabalho adquiriam as “festejadas”camisas para presentes(sacanagem)
O pobre do polonês sempre achava que estava de acordo com a modernidade e sua mulher, a Dona Nally (como ele a chamava) concordava com o “bom gosto”do consorte.
Na época eu trabalhava num Banco e para complementar a renda tinha uma carteira de capitalização da Sul América e o dito cujo era um dos aplicadores mensais (na época eles não depositavam em banco, tínhamos que cobrar e prestar contas ao final de cada mês à empresa – haviam sorteios em dinheiro para quem mantivesse as prestações em dia).
Certo dia cheguei na confecção do Sr. Ildemar, e como ele estivesse com alguns atrasos procurei explicar das vantagens de manter sua situação perante a investidora em dia.
Ele me atendeu e eram aproximadamente dezessete horas, a loja fechava às 19,30 h.
Expliquei a questão !
- “Chovem amigo, declarou: xá termin expiente” - vociferou...
Que fazer, coloquei a papelada na minha pasta e tratei de correr atrás de outras cobranças, mas...
havia um senhor ao meu lado querendo acertar as contas da confecção de um terno.
Ele ouviu a afirmação do Sr. Ildemar e disse: amigo, então vou passar em outro dia para acertar...
- “Putcha la vida”, nada disso “fregueis”o caixa de pagamento está fechado mas o do recebimento está funcionando muito bem...vamos lá acertar...
Era “liso”aquele polaco...
Mas a confecção “tocada”por ele e por sua mulher (eles tinham o primário incompleto, mal sabiam escrever seus nomes)...
FALIU!!!
Mudaram-se do centro da cidade para um bairro próximo.
Abriram um”botecão” com tudo que tinham direito: amplo balcão, banheiros asseados, congeladores, mesas, banquetas, iluminação de boate, som e delicioso cardápio acompanhado de finas bebidas, um show...
Nossa turminha comparecia todas as sextas-feiras – dia que havia show de “strip tease”no ambiente (logo interditado pela polícia local – sacanagem de denúncias de vizinhos moradores invejosos)
Mas Ildemar era simples, trabalhador, procurava divulgar seu empreendimento!
- Na calçada frente ao “botecão”sempre haviam avisos, comunicados: escritos a giz pelo proprietário:
- “Oxe, tem aquela que fosse gosta: lingüiça preta.” É das grande...venha provar...
- Vendemos “serveja”no fiado prá quem é honesto, só pedimos prá devolver as “garafas limpas e interas”.
- “Cumunico que famos atendê até o último fregueis sair...”
Assinado: O próprio otário.
Eram uns coitados, mas bem ou mal deram estudos ao casal de filhos.
Nas conversas de balcão um dia perguntei-lhe: como era a Dona Nally (queria saber sim do relacionamento afetivo e do cotidiano do casal)
- “Xente”vou contar só prá voceis:
Dona Nally "tem pentelha da joelha até o piscoço...cabeluda, cabeluda...”
Ele não sabia das gozações as suas costas, era muito hilário.
Certo dia ouvimos barulho no fundo do bar, garrafas quebrando, uma praga rogada, gato miando...uma estrepolia só...
- Meu amigo perguntou: “o que é isso Ildemar”???
- “Puta que parriu, são os catos, são os maltidos catos traveis...”
Na verdade o gato era seu vizinho, dono de um moinho que pulava com freqüência a janela do “botecão”para “fofar”a madame...
Ildemar sabia, mas porque reclamar, Dona Nally afinal merecia carinho e ele “broxa”não podia lhe proporcionar.
Eram felizes ao seu modo.
E ela tinha um fogo!!!...seus bigodinhos até eriçavam de tesão...
Quando Ildemar em algum final de semana resolvia pescar com amigos, avisava o vizinho do moinho: cuide de Dona Nally prá mim?...
Claro que ele cuidava, e muito!!!
Na pescaria ele proporcionava: condução,barracas, comidas, bebidas, som e tralhas de pesca, sentia-se o dono do mundo.
- Liberdade, “xente”, viva a liberdade proclamava...
Na madrugada, depois de muita bebedeira e comilança ele suplicava ao motorista Lenício:
- preciso cagar no mato, me leve até lá e acenda a lanterna...tenho medo de ir sozinho, pode ter cobra e algum fantasmas.
E lá iam os dois, Lenício com as narinas parcialmente tapadas pelas mãos ao final estendia o papel higiênico pro parceiro.
Tem muito mais estória prá contar.
Creio que o personagem deste conto já abotoou o paletó!
Que ele descanse em paz longe destes fofoqueiros de plantão!!!