O Pêncil e a “próxima”

Doutor Maubássi

Um dos meus programas preferidos aqui na Chácara Cio da Terra é ouvir as histórias de escola da professora Socorro Maranhão, minha companheira. Outro dia ela contou a história do pêncil e a próxima. Imaginem o significado de pêncil e próxima para uma senhora sem instrução formal, mas muito educada e mãe de um menino que estudava numa determinada Escola Classe de Brasília, aqui pertinho de Águas Lindas.

Não vou revelar o significado de “pêncil e próxima” para não tirar ao leitor a oportunidade de forçar o raciocínio e descobrir o significado sexual destas duas palavrinhas. O fato é que havia um aluno de aproximadamente 12 anos, que não deixava nenhuma professora dar aula, perturbava, era inquieto, nervoso e não aceitava os professores e a diretoria da escola chamarem sua atenção.

O relacionamento da Escola Classe com esse menino foi se agravando a tal ponto que o espaço escolar já estava virando uma praça de diversão para o garoto, com rendimento zero,,, então a professora de sua classe, a diretora e orientadora pedagógica resolveram, de comum acordo, que só restava uma solução: apelar para a autoridade dos pais.

Uma vez decididos a convocar os pais, tentaram, através do próprio menino, o envio de um bilhete convidando-os para uma reunião. Frustradas as três tentativas, sempre acompanhadas de uma desculpa esfarrapada do garoto, descobriram que o próprio aluno estava jogando os bilhetes fora e os pais não tomavam conhecimento do que se passava.

Então, a vice-diretora resolveu enviar um funcionário da Escola até a casa do garoto e convocou a mãe dele a comparecer para tratar de “assunto relacionado ao seu filho”,,, assim dizia o bilhete.

O leitor deve estar curioso para saber o novo significado de “ pêncil e próxima”. Calma,,, “jazim” nós chegaremos lá.

Passados uns três dias a mulher chega ,,, vai direto à diretoria e lá,,, encontrando a vice-diretora, pergunta:

¬ Dona diretora, o que está acontecendo com o meu filho aqui?... Eu não vejo ele fazer tarefa, nunca pegou no livro em casa... Ele aprontou alguma coisa errada por aqui?

¬ Sente-se mãezinha, fique calma. Quer tomar um copo d’água,,, um cafezinho?

¬ Eu não quero nada não! Eu só quero saber porque vocês me chamaram aqui... Estou preocupada,,, esta noite eu nem dormi. Isto está me deixando “neivosa”.

¬ Acontece,,, que o seu filho,,, é hiperativo...

¬ O que é isso? Alguma doença?

¬ Não,,, isso quer dizer que ele não para quieto, perturba a escola inteira, não estuda e não deixa os coleguinhas estudarem. Já fizemos tudo que poderíamos fazer ao alcance da escola. Mudamos de professora várias vezes, por último, transferimos para a sala de um professor homem, pra ver se ele respeitava e nada deu resultado. Foi por isso que chamamos a senhora aqui,,, para nos ajudar a resolver o problema do seu filho.

¬ Sabe diretora, eu “vô contá logo u purtuguês” certo, rasgado... “ O pai dele tá com pobrema na próssima e tá afetano o pêncil”,,, fica “neivoso” e bate todo dia no menino. O menino também fica “neivoso” ,,, desse jeito que a “sinhora tá veno aí”.

A vice-diretora, por um instante ficou olhando para a mãe com aquele olhar de Mona Lisa, de quem não entendeu nada, até traduzir mentalmente o significado de pêncil e próxima. Uma vez entendida a mensagem, sem perguntar nada, dispensou a mãe e mandou chamar o pai para uma sessão de aconselhamento. Quanto ao menino, foi tratado pela própria professora, contadora dessas histórias de escola que é uma psicóloga prática e nesses casos dava uma atenção especial à criança.

Não é todo dia que se encontra professores e diretores com essa paciência e disposição para lidar com os problemas da comunidade escolar. Se fosse deixar por conta do governo, dificilmente o “pobrema da próssima e do pêncil daquele pai de família seria resolvido.”

Moral da história, segundo informações de fontes que não podem ser reveladas, o menino foi tão bem orientado pela professora, que hoje é um homem normal, bem sucedido na vida e chegou a ser uma autoridade importante na Capital federal.