Tribos opostas
Pelo menos em se falando de Ocidente, há dois tipos de diversão hoje em dia: ou você lê um livro ou você vê TV (o restante aparente é na verdade variantes desses dois). Por um tempo houve uma moda chamada de e-books, que era uma espécie de hibrido desses dois. O resultado foi desastroso! os leitores sentiam falta da folha e o telespectador queria ver as ilustrações se mexendo...
O povinho que não sabe que as primeiras novelas eram escritas capitulo por capitulo nos jornais tem a leve vantagem de poder exercer a sua atividade durante a parte da noite. Para recompensar tal fato é que os sonhos foram feitos, pois até mesmo nossa soneca são cheias de caminhos alternativos par as histórias que lemos enquanto que a “turma da telinha” só fica com a cabeça cheia de estática.
Outro fato consumado é a probabilidade de produção de cultura dentro daquilo que se consome. Enquanto é fato que quem lê cedo ou tarde replica perolas semelhantes às que tem consumido, ainda estou a espera para ver alguém da plateia televisiva gastar as suas economias em uma câmera.
Certo dia, um dos televisionados forçou-me a ver um de seus programas. Eu quase morro. Para piorar as coisas, o assunto era tipicamente burguês: eu estava vendo pessoas famosas por serem famosas gastando dinheiro para fazer dinheiro.
Eu sei que foi a burguesia a responsável pela invenção do livro, o que facilita o entendimento quando eu chamo programas como esse de verdadeiras traições culturais. Da vontade de colocar uma advertência antes de começar o show dizendo “estes seres não são, nem de perto, os melhores representantes de sua espécie...nem fugiram do zoológico”.
Sim, são esses dois mares que, através de subterfúgios aprendidos a talvez um bom tempo, tenta chamar para si o maior número possível de nadadores para a sua praia. Os dois causam reações análogas ao afogamento: os leitores se enlouquecem por analisar as coisas demais, as teleplatéias ficam apáticas por analisa-las.... “demenos”.
Infelizmente, uma das batalhas já está ganha para o lado das emissoras. É o que eu chamo de “contagem de corpos”. Nosso lado, o que é feito de papel e tinta, está em sério risco de extinção total. Se bem que o deles está sofrendo por superpopulação (dois lados da mesma moeda que tem pago o IBGE).
Mas também esta é uma guerra pra lá de injusta! Para eles, quase todo arquiteto pensa em uma “sala para a TV”, enquanto isso se perguntamos ao antigo dono de alguma casa onde ficava a biblioteca pessoal, nos olham como se fossemos loucos.
Para a tribo do lado de lá, existem cinemas (algum conhecido me disse que é uma verdadeira orgia para os olhos) enquanto que para nós aparentemente não adianta fazer eventos porque só aparecem “os mesmos gatos pingados de sempre”.
Aliás, nisso os publicitários e produtores de estatísticas até que tem razão: somos tão raros e tímidos quanto a fênix, que várias pessoas juram de pés juntos que existem mas que nunca foi catalogada de fato por nenhuma organização que tenha o aval do governo.
Algumas pessoas dizem que não sabemos conversar, isso não é verdade (afinal quem fica só olhando alguém falar o dia todo é do outro time). O que não sabemos é começar uma conversa... mantê-la fluindo é (relativamente) simples... e se tens cultura o suficiente para ao menos parecer um de nós, terás um amigo para a vida toda.
Essas foram as conclusões ás quais cheguei quando ia saindo de um shopping center que tinha todos os setores de televisão lotados e a única loja de livros com a turminha “de sempre” (que cumprimentei de nome e apelido). Estranhamente, saí de lá com uma amizade a mais.
Eu mandei a proposta para a produção de uma contra-tese que rebatesse essa para os telezumbis na forma de uma carta mas (como era de se esperar) eles não a leram...