Simbologia das lembranças - Cap. 1
"Simbologia das lembranças - Cap. 1"
Imóvel. De boca aberta, sentado no sofá da sala de estar. Olhos fixos mirando o teto, o forro marrom de PVC brilha, devido aos respingos de óleo de girassol das frituras do almoço. Aquela lâmpada fluorescente branca irrita seus olhos. Aparentemente, isso não faz mais diferença. Sua irritação ou preocupação se foi, nem o falso zumbido daquela mariposa preta voando em círculos, embaixo da maldita lâmpada, o tira do sério.
Permanece com o olhar profundo, distante de qualquer coisa, a qual o sugue para o presente momento. Parece ter perdido a fé em algo ou feito a descoberta crucial à sua jornada.
Enfim suspirou. Piscou os olhos e os esfregou suavemente, removendo suas inquietações. Com o pescoço ereto sua circulação voltara ao normal, o cérebro enfim o trazia novamente à sua casa. Logo sentira os pés coçar e mosquitos sorverem seu sangue. Parasitas...
Com tapas no ar os afastou. Levantou rápido e foi à procura de sua agenda. Abriu armários, roupeiros, gavetas e nada. Acreditava na hipótese de que tenha sido um gnomo a dar o sumiço na agenda e quando menos esperasse estaria lá, em um dos cômodos anteriormente checados.
No banho deu-se conta que, se o que procurava estaria na agenda, esta sendo de suma importância, os malditos gnomos não a colocariam no mesmo lugar, pregariam uma peça ou jamais a devolvessem.
- Quem pode ser estúpido o suficiente pra cogitar isso? - Indagou-se.
Já não sabia se agarrava-se à uma mera hipótese surreal ou revirava todos cantos novamente. Acendia um cigarro atrás de outro, tremulava balbuciando palavras perdidas. O nervosismo transformava-se numa aflição sem fim. Cada vez mais ansioso e apreensivo com o que pudera ter ocorrido, sua pulsação variava a todo instante, enfiava goela abaixo doses de um conhaque vagabundo para se conter, ao invés disso seu coração disparava, o corpo encharcado de suor demonstrava a rejeição do organismo, uma névoa pairou sobre seus olhos, uma tontura repentina invadiu sua cabeça, vontade de vomitar, garganta fechada, ao tentar levantar do sofá a fim de recorrer aos analgésicos, inevitavelmente desabou, já inconsciente.
Logo acordou. Ofegante, nervoso pôs a mão junto ao peito, na esperança de restabelecer o controle. Apenas um sonho incomum, não haveria motivos para preocupação, porém um detalhe afastaria seu sossego, uma lembrança havia emergido das profundidades do passado; Uma agenda preta, com a qual sua falecida avó sempre pudera contar, fosse para um médico ou lanche na madrugada, ela continha os mais diversos contatos.
- Mas que porra significa isso, afinal? Sonho estranho... - Disse ele.
Ligou o computador. Entrou num site especializado em desvendar sonhos, digitou tudo que pôde, escreveu sinônimos, palavras-chave e ainda assim não obteve respostas; Sentia-se afogado num mar de indagações e complexidade. Mesmo para um completo leigo, tinha em mente que tanto poderia se tratar de estímulos visuais, emocionais quanto a resolução de um problema através de mensagens simbólicas.