NureyHélio

Na singela plataforma da estação ferroviária do povoado do Brumado, o menino Hélio pontificava, ensaiando imaginários passos de balé. Cabelos avermelhados, sua visão mais se destacava na medida em que mais o trem se atrasava.

O pai, Pico, tinha outras preocupações, na faina diária de chefe da estação. E a mãe, costurava com determinação. Um mantendo os trens na linha, a outra, com a linha entre os teréns.

No seu passo mais ousado, Hélio ajaezou-se todo e se exibiu com vestido de sua progenitora. Nunca no povoado foi um assunto tão comentado. O menino seria o enviado?

Tempo passado, Pico se mudou e a família levou e o trem, até de passar parou. O Brasil militar marchava para a potência econômica

dos generais e seus delfins.

Hélio não apareceu no Bolshoi Kirov - ao menos até que alguém mo prove. Na terra de Krutschev, prima-donna, bailava o Nureyev.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 24/11/2014
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