NureyHélio
Na singela plataforma da estação ferroviária do povoado do Brumado, o menino Hélio pontificava, ensaiando imaginários passos de balé. Cabelos avermelhados, sua visão mais se destacava na medida em que mais o trem se atrasava.
O pai, Pico, tinha outras preocupações, na faina diária de chefe da estação. E a mãe, costurava com determinação. Um mantendo os trens na linha, a outra, com a linha entre os teréns.
No seu passo mais ousado, Hélio ajaezou-se todo e se exibiu com vestido de sua progenitora. Nunca no povoado foi um assunto tão comentado. O menino seria o enviado?
Tempo passado, Pico se mudou e a família levou e o trem, até de passar parou. O Brasil militar marchava para a potência econômica
dos generais e seus delfins.
Hélio não apareceu no Bolshoi Kirov - ao menos até que alguém mo prove. Na terra de Krutschev, prima-donna, bailava o Nureyev.