Faz de conta
Alicia abriu a porta do apartamento sem animo nem vontade alguma. Sabia perfeitamente o que a esperava, e não se sentia nem um pouco entusiasmada com a idéia de enfrentar Rodrigo depois da ultima discussão.
Parou no corredor com a chave na fechadura. Não amava Rodrigo, e sabia que ele também não a amava. Então porque continuavam juntos? Comodidade? Medo da solidão? Era difícil viver sozinha em uma cidade como aquela, longe de qualquer traço de afeição e carinho, e lembrava-se de ter pensado nisso quando certa vez quando estava com Rodrigo.
Parada no corredor, com a chave do apartamento na fechadura e a bolsa na mão Alicia se deu conta do quão medíocre estava se tornando sua vida. Um namorado a quem não amava, um emprego que não a satisfazia, uma vida de faz de conta, fingindo que era feliz, fingindo que não chorava a noite, fingindo...
Tirou a chave da porta e entrou novamente no elevador. Saiu pela rua, saiu sem rumo. Não tinha porque se apressar em chegar em casa, não tinha nem porque chegar em casa. Andou algumas horas, voltou para casa, beijou o namorado e sorriu ao ve-lo surpreso com sua demora e foi tomar banho. Colocam-se as máscaras, vestem-se os personagens. Voltamos ao espetáculo do eterno faz de conta. Nem Alicia sabe mais o que é realmente verdade em sua vida. Talvez nem eu saiba o que é faz de conta e o que é real.