FUTURO DO PRETÉRITO
_ Meu nome é Carlos.
_ André. Cê vem comigo pegá os cavalo?
_É longe?
_ Não.
_ Então só vou ali dentro avisar minha mãe!
Carlos arriou da velha porteira. De um salto, pôs-se desembestado em direção a tapera. Enquanto corria, seus pensamentos o adiantaram, de modo que em sua cabeça já havia tido com a mãe, pegado um cavalo e seguido galopando pra longe.
Sorriu. Seu alazão seria negro e de nome “Danação”. Um corcel terrível, indomesticável que nenhum outro seria capaz de amansar. Exceto ele, evidentemente, cuja simples aproximação bastaria para fascinar o animal e apazigua-lhe o espírito selvagem e indomável.
Claro, André tentaria impedi-lo.
_ Di jeito nenhum! Cê tá besta di tentar pegá esse daí. O diabo é alejador.
_ André, André! Acabamos de se conhecer, por isso você não sabe. Mas eu consigo. Eu sou diferente!
E sem acreditar em seus olhos, André sairia em disparada para contar que o impossível havia acontecido. Enquanto isso, Carlos cavalgaria imponente pela estepe e seria a própria velocidade.
O que o desafiaria? A correnteza irascível de rios assassinos? Grutas furtivas? Morros? Onças? Nada! A poeira espargida pelos cascos do corcel negro cauterizaria no vento o retrato de sua bravura e sua coragem reverberaria para dali a dezenas, quem sabe, centenas de anos.
Haveria livros, tratados, canções a seu respeito e...
Carlos chega a tapera. Passado alguns instantes, Carlos sai da tapera e, principalmente, Carlos volta à porteira onde André aguardava.
_ Minha mãe mandou eu entrar pra tomar banho. Depois, ajudar a arrumar nossas coisas. Sabe, a gente chegou não faz muito tempo.
_ Então tá bom.
_ Mas e amanhã? A gente pode sair cedinho pra tentar achar o Danação?!
_ Danação? Aqui não tem esse cavalo não! Só o Pano-di-Prato e o Espiga.