Cisterneiro Walder
Foi só um filete de grito, mas o clamor foi bem entendido
pelo fiel João. Logo lançou a corda e produziu forças que lhe
eram desconhecidas para içar o Alemão do fundo do poço. Na
emergência, todo mundo é moço.
Já recostado num monte de argila, que saíra daquele crescente buraco, rosto comprimido e sangue
ainda a lhe escorrer profusamente pelo peito do pé, o Alemão diz
que não é nada. Acha que nem gastar com médico precisa. No máximo
uma farmácia.
Mas o socorro lhe é providenciado dentro do imediato possível,
mal dando tempo a que o Alemão cisterneiro explique aos
atônitos circunstantes aquela desafortunada ocorrência. Mais um
pouco, poderia ter decepado o próprio pé.
A picareta - sempre picaretas - ao ser desferida para mais um corte tocara
acidentalmente no cabo da pá, e pá! Mas tudo em paz, o taxi ali
na rua já o leva num zás-trás.
E na semana seguinte, pé enfaixado, lá estava o Geraldo Alemão,
de novo no fundo do poço. E com poucos dias mais de escavação
deu-se no freático e a água começou a "merejá" as paredes.
Aos dezenove metros e quarenta - concedendo-se dois e pouco
de água - estava concluída a parte de escavação, que logo foi
seguida do revestimento, em tijolo bem queimado e o trabalho
por concluído dado.
Quando Geraldo retornou àquele poço já haviam passado mais
de dois anos. Foi para a sua limpeza, mas com aquela habitual
destreza, só exibindo a cicatriz no pé, e ar triunfante até.
Recuperou o "copão", de lata de gordura de coco, de dois litros,
que ali havia caído e já quase consumido pela ferrugem e muito pouca coisamais. Mas matou a saudade e a sede.