A bolsa amarela

Dentro de meu pequeno mundinho, ou eu poderia dizer quarto? Cheio de todas as coisa que uma mulher mediana e cheia de vontades próprias poderia ter, acordei assustada sentindo lembranças e saudades.Continuei na cama por uns minutos tentando colocar em ordem meus pensamentos e afazeres do dia. Não conseguia, por mais que tentasse, lembrar do sonho que me fez suar e me deixar cansada boa parte da noite. Dizem que os pesadelos são sempre bem lembráveis, e os sonhos, os desejados e esperados, você não consegue visualiza-los depois. Só conseguia lembrar de pequenos flashes enevoados e sem cor. Dizem, também, que só sonhamos em cinza e que não existe cheiro ou gosto. Discordo. Eu sempre me lembro das cores e sabores dos sonhos, ou pesadelos. Uma vez bem perto de fazer uma viagem muito esperada, sonhei com o lugar e juro que senti a brisa noturna bater no meu rosto e a dor dos calos da trilha que eu iria fazer. Foi mágico. No passeio real eu vivi o sonho de forma perfeitamente material. Coloquei os pés pra fora da cama e mirei a direção do banheiro. Tomaria um banho, lavaria o cabelo, vestiria algo confortável, um café e voltaria a minha mesa de trabalho.Faria tudo igual como todos os dias, sem nenhuma mudança ou desacordo. Fiz tudo igual. Foi aí que sentada a minha mesa deu-me um estalo de revolta. Coloquei (...) no meu texto do momento, levantei, tirei a roupa de casa, coloquei algo diferente e inusitado, pintei o rosto, quase como quem vai a guerra, abri o armário de bolsas e sapatos, peguei uma sandália e logo na frente lá estava ela: minha bolsa amarela nova. Linda e grande. Coloquei tudo o que eu precisava dentro dela e a joguei no ombro esquerdo. Ela era sem dúvidas muito diferente e amarela. Todas as outras, num total de três eram pretas e sacoludas: napa, couro e tecido. Uma de cada. Olharam pra mim do armário aberto cheias de sentimentos confusos, como eu. Era hora de sair. Era meu aniversário. Eu iria a rua, tomaria um sorvete, compraria pão, leite e quem sabe um bolinho. Daria uma boa volta. Estava passando da hora de apresentar minha bolsa amarela a um futuro amor... quem sabe?