A Vida Leve

Muda, a luz era um recado doce aos dias. A breve aragem fazia despedir da ramaria as folhas que, dormindo em tons quentes, faziam no chão um tapete frágil. As cores ocres enfeitavam a paisagem e muitos pássaros já seguiam para sul. Mil pedaços de nada compunham os caminhos mais interessantes para chegar ali. Havia um céu de luz ainda intensa e nuvens definindo roteiros fascinantes para as cores. Já não era tempo de flores mas o musgo há muito vestira de macio verde pedras, muros e árvores. O banco, abrigado de vento, dava para a trivialidade do lugar e raros conheciam o prazer de ficar nele, com os pensamentos à solta, á espera do amor. Enquanto não chegavas escutava o canto das aves. Namoro de rolas na copa das tílias, a conversa do melro que tinha ninho na ramaria da laranjeira. Presumo que ele sabe que sou gente de paz porque o vejo a girar, sem desvios, o costume dos seus dias. Declina o sol e o ar torna-se presente. Agora, a passarada voa em círculos escolhendo, na árvore, a melhor cama. Não preciso de ver as horas para te sentir chegar. Fixo a curva distante da estrada e já te vejo. Cansados os olhos e o coração já tranquilo, levanto-me, aconchego o casaco de malha e começo a andar ao teu encontro. Todos os meus atos se filtram em ti. Há muito que as minhas certezas te definem como destino. Viver o dia não faria sentido se depois de te ver, passasses sem me olhar ou visses em mim um desconhecido. Abraças-me. O resto da caminhada arrasta-se em palavras e risos. Contigo é sempre leve a vida.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 08/11/2014
Reeditado em 29/04/2015
Código do texto: T5028184
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