FAZENDO AS CONTAS

Romilton aproveitou que a mulher não estava em casa, pegou a calculadora e começou a fazer contas. Anotava tudo em um papel. Fez uma expressão de preocupação. Já estava gastando mais do que o necessário. As contas chegavam. O cartão de crédito estava no limite. Coçou a cabeça. Presumiu que a esposa chegaria cheia de sacolas. De sacolas cheias. Cheias de roupas caras, de joias, de sapatos caros. Romilton tinha quase 60 anos e sua mulher tinha pouco mais de 20. Ele falava que já estava na hora de controlar os gastos, mas suas palavras voavam com o vento. Entravam em um ouvido e saíam pelo outro. Certa tarde, Romilton lia seu jornal tranquilamente, na sala. Tomava suco e comia salgadinhos. De repente, ele viu sua esposa descendo a escada com uma revista na mão, falando em tom delicado:

“Miltinhoo!”

Romilton fechou os olhos e ficou apreensivo, pois quando ela se dirigia a ele daquela forma era um mau sinal.

“O que foi, meu amor?”

Ela caminhava devagar e sentou-se no colo dele. Em seguida mostrou-lhe a revista.

“Amorzinho! Olha só que vestido lindo!”

“É... muito bonito.”

Ela acomodou-se no colo dele.

“Imagina sua linda mulher com esse vestido!”

“Ele vai... vai ficar ótimo em você.”

“Já que ele vai ficar bem em mim é lógico que você quer me ver com ele, não é verdade?” Falou ela, beijando o nariz do marido.

“Não tem outro, mais barato?”

“Mais barato?”

“É, mais barato.”

“Nossa, amor! Você nunca foi de fazer essas perguntas... tem uns mais baratos sim, mas são feios! Olha, olha só como são feios. Você acha que eu vou ficar bonita com esses vestidos horrorosos?”

Romilton ficou calado e pensava. O preço do vestido era altíssimo. Depois de pensar ele disse:

“Tá bom, pegue o meu cartão e vá comprá-lo.”

Ela deu um grito de alegria e beijou Romilton. Chegou a amassar o jornal que ele estava lendo. Ela subiu a escada cantando. Romilton disse, em tom baixo:

“Com esse preço dava pra comprar uns 10 vestidos.”

Ela voltou. Romilton se recompôs e perguntou:

“O que foi?”

“Você podia ir comigo lá no shopping...”

“Ah não, amor. Quero descansar.”

“Se for comigo poderá comprar algumas coisas pra você.”

“Não quero nada.”

“Eu vou sozinha, então.”

“Amor!”

“Fala.”

“Compre só o vestido tá bom?”

“Você tem andado tão estranho...”

Ele continuou lendo o jornal. Minutos depois a esposa desce.

“Vou comprar o vestido. Ah, eu vou no seu carro, porque ainda não abasteci o meu. Vou abastecê-lo amanhã quando eu for ao salão de beleza.”

Romilton estava na cozinha quando a mulher voltou do shopping. Ela lhe mostrou o vestido.

“Olha, amor, ele não é lindo?”

“É sim, é um vestido lindo!”

“Amanhã quando a gente for jantar lá casa da Gilceia eu vou com ele.” Disse a esposa.

No dia seguinte, Romilton se arrumava para ir trabalhar, quando a mulher dele lhe mostra uma revista.

“Miltinhoo!”

“Diga, amor.”

“Olha só que biquíni bonito.”

“Puxa! É muito bonito.”

“O que você acha desse biquíni no meu corpo.”

Ele a abraçou.

“Esse biquíni vai ficar ótimo nesse corpinho lindo.”

Romilton levou um baita susto quando ela disse quanto custava o traje de banho.

“Um biquininho desse custa isso tudo?”

“É amor, é porque é um biquíni de grife.”

Ele deu um suspiro.

“Tô querendo usar ele quando a gente for na praia.”

“Mas e aquele que você usou na última vez que a gente foi à praia?”

“Aquele já está velho, fora de moda.”

“Pegue meu cartão e vá comprá-lo.”

Ele voltou a fazer cálculos e levou as mãos à cabeça.

“Mais um sapato e eu vou à falência.”

O tempo passou, Romilton falava em controlar os gastos, mas a mulher continuava gastando. Ele já estava ficando ‘com a corda no pescoço’. Após 1 ano casados, a separação. Não deu certo. Romilton conversava com um amigo.

“É assim Wagner, o amor acaba quando acaba o dinheiro.”

Ele deu um gole na cerveja.

“Desejei a ela toda felicidade do mundo e que ela se case com um dono de banco.”

“Você já está com outra?” O amigo.

“Tô ficando com uma aí que é bem mais barata e não vai me quebrar.”

“Ela levou muita grana sua?”

“Levou. E ficou com um apartamento que eu tinha lá em Recife.”

Outro gole.

“Mas não me quebrou. Felizmente.”

O amigo falou:

“Ela não vale nada.”

“Você está enganado. Fiz as contas outro dia e vi que aquela mulher vale aproximadamente 50 mil Reais brutos.”

Alveres
Enviado por Alveres em 06/11/2014
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