PERDI UM AMIGO

 
Fui criado na fazenda e em casa sempre tivemos cachorros, mas na minha infância e adolescência até a década de setenta, nas fazendas ninguém vacinava e nem comprava remédios para cachorro, não tínhamos a facilidade que temos hoje para encontrar um veterinário e qualquer remédio que precisar. Naquele tempo ainda mais numa cidade pequena isso não existia, e também não tínhamos dinheiro o que ganhava mal dava para alimentar a família.
     
O jeito era se virar com remédios caseiros e simpatias como, para tosse fazia uma coleira de sabugo de milho sapecado no fogo, quebrava ele em pedaços pequenos e passava um arame por dentro fazendo uma coleira e colocava no pescoço do cachorro.
   
Contra a raiva que era chamada na época de (cachorro louco), existia uma simpatia, quando o cachorro era ainda filhote, na primeira sexta feira do mês de agosto (mês de cachorro louco), meu pai pegava a tesoura e cortava a pontinha das orelhas e deixava sangrar.
   
Quase todas as famílias da colônia tinham cachorros e todos iam para roça junto com seus donos, quando eu tinha dezesseis anos nós tínhamos um cachorro preto e branco chamado Tupi, daí arrumamos outro era branquinho e tinha uma mancha marrom num olho, eu pus o nome de Tupã.
     
Meu pai e eu trabalhávamos na lavoura de café, o Tupi já ia com a gente para a roça, quando o Tupã já tinha uma idade que podia acompanhar-nos o levamos também.
   
Como a lavoura era distante de casa, à tarde eu saía um pouco antes que meu pai, porque tinha que estudar a noite na cidade. O primeiro dia, a hora que eu saí para ir embora do serviço eu chamei o Tupã para ir comigo, ele andou um pouco mas por ser novo acho que cansou, não queria acompanhar-me eu insisti carregava ele um pouco, e punha no chão ele não queria andar eu forçava até bati nele neste dia mas o obriguei a acompanhar-me até em casa.
     
Deste dia em diante o Tupã passou a ser meu companheiro, não separou mais de mim, acompanhava-me todos os dias na roça, às vezes meu pai e eu trabalhávamos em serviços separados na lavoura, saíamos de casa juntos e os dois cachorros nos acompanhava, já dentro da lavoura de café nos caminhos chamado de carreadores, em tal ponto separávamos e o Tupi seguia meu pai o Tupã a mim, não precisava nem chamar.
     
Eu como disse com dezesseis anos, muitas vezes trabalhei sozinho longe de outras pessoas, no meio de um cafezal fechado não se via nada somente pés de café por todos os lados tendo como companhia o meu inseparável amigo Tupã, nas horas de descanso eu deitava em baixo de um pé de café e o Tupã deitava do meu lado, eu conversava com ele não me sentia solitário.
     
Mas a minha felicidade não durou muito, um dia Tupã ficou doente fizemos o que podíamos por ele, dentro das condições da época, rezamos, minha irmã acendeu até vela, mas não teve jeito no dia primeiro de setembro de 1977, ele morreu.
   
Que tristeza perder o meu companheiro de todos os dias, eu trabalhava o dia todo pensando nele, a saudade era demais, eu jovem naquele tempo tinha vergonha de falar, mas muitas vezes trabalhando sozinho eu chorava de saudade e de tristeza por não ter tido condições de salvá-lo.
   
O tempo passou tive muitos outros cachorros que me proporcionaram muitas alegria mas nunca esqueci o Tupã e hoje passado quase quarenta anos não tenho vergonha de dizer que termino este texto com lagrimas no olhos.
João Batista Stabile
Enviado por João Batista Stabile em 02/11/2014
Reeditado em 24/11/2020
Código do texto: T5021067
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