Cheiros daqui.
O cheiro daqui me agrada. Na verdade, os cheiros. Noto que existem dois, distintos um do outro. O primeiro deles - notei logo no início - é um cheiro de viagem. Parece estranho, não? Cheiro de viagem. E viagem tem cheiro? Não sei as de vocês, mas a minha tem. Pode ser o cheiro de um perfume - meu, de algum conhecido ou de um total desconhecido -, o cheiro das cobertas e das toalhas de um hotel ou até o cheiro do hall do hotel. Aqui o cheiro é de um hall de hotel. O que me leva a boas sensações toda vez que vou pegar o elevador, por exemplo. Geralmente está escuro, final de expediente e poucas pessoas transitam por perto. Enquanto espero o elevador chegar até o oitavo andar - e como parece passar toda uma eternidade até os números crescerem lentamente, do térreo até o oitavo - eu sinto esse cheiro. Sinto com todo o meu corpo, evito pensamentos e apenas sinto o cheiro agradável. Parar assim é bom. A gente quase nunca para, né? Faz bem para a mente. Tranquiliza um pouco. Esse foi o primeiro cheiro. O segundo me lembra a época que eu fazia natação. Ou melhor, toda a época da minha vida em que fui aluna de um lugar chamado Viva Água. Lá tinha natação e academia. Iniciei bebê ainda, na natação. Minha mãe de touca na cabeça, sorriso bobo de mãe no rosto e eu em prantos. Obviamente, não lembro se eu chorava muito, mas já ouvi relatos nesse sentido. Depois, mais crescidinha, continuei na natação por um bom tempo. Não que eu gostasse, mas era um bom esporte. Então, eu fazia. Mesmo sem gostar. E depois, mais tarde ainda, entrei na academia. Fiquei na Viva Água realmente um bom tempo. E o cheiro que eu sinto é do cloro da piscina. Lembro da água que sempre parecia tão gostosa, dos brinquedos que nela boiavam, das diversas cores dos bancos que serviam de túneis que atravessávamos, das músicas que cantavam para os bebês pequeninos , do olhar das mães. Lembro e sinto tudo. Todos esses cheiros. Todas essas sensações. Todas essas lembranças. E tudo isso me deixa feliz. Feliz em estar aqui.