ESTAÇÃO

Este conto foi inspirado no haicai ilustrado por fotografia, feito pela consóror Marina Alves:

“O PASSADO ETERNIZADO,

EMERGE EM NOSTALGIA

DAS BRUMAS DA FOTOGRAFIA”

O dia mal amanhecera.

A luz do sol incipiente projetava milhares de arco-íris, através das gotas de orvalho penduradas nas pontas das folhas do enorme pé de maracujá fixado na cerca de madeira, embaladas pela brisa nessa hora da manhã.

Vacilantes, uma a uma, as gotas se lançavam em queda livre até o piso da plataforma da estação de trens, ponto de chegadas e de partidas...

Talvez por causa do frio, o trem estava atrasado outra vez.

O chefe da estação tocou a sineta para avisar que a bilheteria estava aberta.

Um homem, vestido com o casaco surrado, levantou do banco onde ficaram encolhidas a mulher e duas crianças e se dirigiu à bilheteria. Queria comprar passagens, mas o dinheiro, ansiosamente buscado nos bolsos, não era bastante.

Pediu gratuidade para a pequenina...

Eles só ocupariam um dos bancos com dois lugares...

Não precisavam de mais nenhum espaço...

Argumentou...

Ante a negativa, quis negociar o casaco pelo bilhete para a pequenina.

Impaciente, o encarregado da bilheteria, mandou que ele cedesse a vez para o próximo da fila, porque não havia tempo a perder...

O trem logo chegaria...

Cabisbaixo, o homem voltou ao banco onde ficara a família e, lentamente, deixaram a estação. Iriam a pé.

Não importa para onde...

No trem só viaja quem pode pagar a passagem...

Entre brumas e fumaças a composição estaciona ao lado da plataforma.

A moça envolta no chalé branco, que até então estivera sentada, se levanta e, lentamente, percorre com os olhos ansiosos, as janelas dos vagões dos passageiros, procurando identificar, em cada rosto, o dono daquela fotografia, tantas vezes beijada nas noites insones...

O sino badalou festivo, o chefe do trem apitou forte, a máquina soltou um grito estridente e o trem pôs-se a caminhar...

A moça, com passos vacilantes, voltou para casa...

Amanhã ela estará esperando outro trem...

... Hoje ele não veio...

Nem jamais virá.