Mistérios da Lua Nova
Uma forte claridade anunciava-se no alto do morro, ali nas proximidades do cacimbão do seu Estevão. Daquele grande poço saía boa parte da água que matava a sede dos camponeses que moravam nos arredores.
Quando moradores da parte baixa viram o clarão, alarmaram logo ser coisa de marciano, ou qualquer outro ser extraterrestre. Todos ficaram em círculos apontando para o local, fantasiando as mais diversas bruxarias, fazendo os mais jovens ficarem com os cabelos em pé e olhos arregalados.
Seria uma cometa que ali aportara ou um grande meteoro incendiado pelo impacto dos ares? A luminosidade era tamanha que se refletia na fachada da igreja, projetando enormes sombras dos sinos emudecidos contra a multidão alvoroçada.
Começara, no dizer matuto, à boca-da-noite, mal o sol se escondera por trás dos montes, rodeado de nuvens arroxeadas.
Comentavam sobre a demora do corpo de bombeiros, bem como acrescentavam que o mesmo fora interceptado por discos voadores e no momento era prisioneiro dos invasores. Os poucos guardas policiais presentes tentavam criar um cerco de isolamento com o propósito de ninguém aventurar-se e perder-se frente ao inimigo desconhecido.
O Sr. Prefeito devia ter tomado conhecimento, mas estava distante resolvendo problemas na cidade grande. Um padre e um pastor tentavam comandar seus rebanhos à parte, posto que maiores eram os poderes de Deus.
Para se ter uma ideia, a lua que se faceirava pelo céu, ficou com a metade tinta pelo alaranjado das chamas, a outra face exibindo o branco majestoso de lua cheia.
As árvores que se avolumavam ao redor das grandes luzes, expeliam folhas ressequidas aos ventos, e seus galhos pareciam encurvar-se devido ao calor insuportável.
Até que, finalmente, fez-se dia. O sol banhou as ruas e trouxe a realidade dos fatos. Ou melhor, desmentiu.
Toda aquela luminosidade era simplesmente seu Estevão tocando fogo no roçado.
A lua cheia sempre lhe trazia toda a sorte de esquisitices.