Ela não se importa

Vania mora em uma casa de repouso no interior de SP, uma jovem senhora que aguarda ansiosa a visita trimestral do seu único filho, único, pois a vida fez questão de levar seu marido e sua outra filha num trágico acidente de transito há muitos anos atrás caso que ela superou com maestria.

Criou Isac sozinha com 2 empregos e como toda Mãe sempre se orgulhou de sua cria. Hoje ela o aguarda, já tomou seu banho, escolheu seu vestido de flores que gosta muito pois lembra as flores que seu falecido marido deu em um de seus piqueniques no parque da cidade onde costumavam namorar, o vestido, já cheirava um misto de armário com naftalina que ela disfarçava com 3 borrifadas do perfume que ela guarda só para ocasiões como essa.

O batimento cardíaco aumenta a cada minuto do relógio, ela prepara o quarto/sala para visita do seu tão amado filho, arruma a cama, limpa o banheiro, faz tudo bem depressa pois precisa estar pronta para ele.

Passa a mão no interfone do quarto e chama uma das enfermeiras que trabalha no local, lembra de que havia pedido um bolo de cenoura para a ocasião.

Não é fácil conseguir essas coisas, mas Dona Vania é uma senhora tão boazinha que as enfermeiras não conseguiam dizer não. E lá estava o bolo, com a cobertura durinha, do jeito que Isac gostava quando era menino.

Tudo estava pronto mas ainda eram 11h, Isac só chega ás 14h, a ansiedade toma conta, ela se deita um pouco, aguarda o almoço.

Começa a lembrar de momentos que se passaram, de quando eles foram em um pequeno zoológico na cidade e Isac falava pra ela que enfrentaria até o maior leão do mundo pra ficar com ela, seus olhos se encheram de lágrimas, mal sabia o menino que aquela senhora enfrentaria, aliás, enfrentou vários leões pra ficar com ele.

No almoço, come depressa, olhando o relógio, afinal já são 13h e em uma hora ele estará aqui.

Do outro lado da cidade, Isac está acordando de uma de suas inúmeras saídas, ainda sem almoçar, olha no relógio, assusta-se com o horário e senta na beira da cama e se queixa com a companheira de ter que ir visitar a mãe.

Levanta emburrado vai em direção do chuveiro quando seu celular toca, era Marcos lembrando-lhe de um almoço que eles haviam marcado com alguns potenciais clientes

para a bem sucedida empresa que eles eram sócios.

Agora Isac estava atrasado para 2 compromissos, mas os clientes eram mais importantes, afinal sua mãe poderia aguardar até após o almoço.

Isac foi ao almoço com seus clientes.

14h se apontaram no relógio e Vania mal cabia dentro do quarto de tanta ansiedade, já sabia o que ia perguntar, já tinha até um roteiro pronto em sua mente de quais assuntos gostaria de falar com seu filho, desde o passado até quando ela iria ter um netinho.

14:15 e nada de seu filho aparecer, mas isso era normal, Vania sabia que ele não era pontual, isso até trouxe algumas lembranças que a fizeram rir e também fizeram o tempo passar até as 15h.

Vania já começava a se acostumar com a ideia de que seu filho poderia não vir.

Mas mesmo assim preferiu deixar tudo arrumado e não quis tirar sua soneca da tarde pra caso ele chegasse, ficou sentada na cadeira assistindo a programação da TV aberta, também não cortou o bolo, pois sabia que ele desde pequeno gostava de cortar o primeiro pedaço, então ela preferiu aguardar, quem sabe é o transito, quem sabe...

Isac, por sua vez almoçou com seus clientes, e preferiu deixar pra ligar pra sua mãe mais tarde, amanhã ele manda um beijo e fica tudo bem, ela não se importa, foi o que ele disse para sua companheira.

ELA NÃO SE IMPORTA!