URINOL OU DEFECOL?

Urinol!

Da geração nascida após a década de 80, poucos conheceram ou já ouviram falar em “urinol”. Acredito até que não fazem qualquer questão de saber ou conhecer.

Como nasci em meados da década de 50, e, principalmente pelo fato de ser de origem pobre, esse utensílio por muito tempo fez parte da minha vida. Não que eu o tivesse usado e sim pelo fato de que o meu pai o utilizava todos os dias, ou melhor, todas as noites.

Naquele tempo a maioria das casas não dispunha de rede de esgoto e água encanada. Dessa forma, também não tinham vasos sanitários ou banheiros dentro de casa. As pessoas tomavam banho por meio de caneca, balde, ou bacia, já que a água tinha que ser buscada em alguma bica, nem sempre próxima.

Afora alguns privilegiados era comum nos quintais das casas, a presença de uma edícula constituída de tábuas nas laterais e telhado de zinco, telhas de amianto ou latas de banha abertas e pregadas em madeiras.

Essa edícula, chamada de forma mais corriqueira de privada e também por casinha, circundava um buraco redondo, como aqueles que são abertos para construção de cisternas, com aproximadamente 80cm de diâmetro por dois a três metros de profundidade. Tapando esse enorme buraco, sobrepunha-se um tablado em madeira com uma abertura no meio, a qual poderia ser redonda, retangular, ou quadrada. Para ilustrar, caso fosse quadrada, teria medida aproximada de 30cm X 30cm.

Sobre essa abertura a pessoa se agachava e fazia suas necessidades fisiológicas.

Como era difícil ir até o meio do quintal durante a noite, a solução era manter um urinol (o mesmo que pinico) debaixo da cama. Quando a necessidade apertava era só apanhá-lo com uma das mãos e expelir nele os seus dejetos, líquidos ou pastosos. Após isso voltava-se com o urinol para debaixo da cama. E assim a pessoa voltava a dormir tranquilamente, o sono dos justos.

Ao amanhecer o dia, ou a qualquer hora deste, a pessoa apanhava o urinol e saia com ele pela casa, dirigindo-se até a privada para descartar o conteúdo. Isso quando não o fazia no próprio terreiro, caso fosse xixi.

Hoje isso é inconcebível, pelo menos nas grandes cidades, mas naqueles idos, apesar do nojo, tínhamos que conviver com essa cena diariamente.

Às vezes estávamos tomando café da manhã ou almoçando e urinol passava carregado, em ambos os sentidos.

A propósito, não sei porque essa peça sanitária recebeu o nome de “urinol” e não de “defecol”, já que nele também se defecava, dependendo da necessidade.

Bom, da mesma forma estaria descontextualizado: se “urinol”, por que não, “defecol”? E se “defecol”, por que não urinol?

Para evitarmos polêmicas, denominemos então “pinico”.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 13/10/2014
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