DELEGADA ou, DELEGATA?

Embora a atividade profissional que exerço seja na área de Tecnologia da Informação, aos sábados e em alguns feriados, presto serviços diversos para as pessoas.

De uma maneira geral, desempenho essas atividades em casas de pessoas conhecidas ou a pessoas por elas indicadas.

No sábado – 04/10/2014, enquanto ultimava os preparativos para finalizar as minhas atividades de pintura daquele dia, ao transitar pela cozinha da residência, objetivando guardar a escada na área de serviços, a dona da casa me apresentou a sua linda filha.

Cumpri os protocolos próprios de uma pessoa que é apresentada à outra e segui.

Ao retornar, chamei pela minha cliente:

--- Rose!

--- Sim, Rafael!

--- Sei que muitos já disseram isto para a você, mas quero reforçar...

--- Pode falar Rafael!

Olhando para ambas, mãe e filha, alternadamente, eu disse:

--- Sua filha é muito bonita!

--- Oh, obrigada Rafael!

Disse-me a mãe, sorridente e orgulhosa.

--- Muito obrigada!

Disse-me a filha com um belo sorriso no rosto.

Em seguida, em tom de brincadeira, a mãe, Rose, alertou-me:

--- Cuidado Rafael. Ela é delegada e, se entender que isso é uma cantada, pode mandar te prender.

E obteve de mim o seguinte retorno, no mesmo tom:

--- Ela é delegada e, portanto, sabe muito bem diferenciar um lisonjeio despretensioso e sincero, de uma cantada.

A propósito, a ela que atua a todo instante com alcunhas, cair-lhe-ia bem a de Delegata.

A despeito da minha pronúncia, certamente uma das suas maiores aspirações é a de que o interrogado diga a verdade, somente a verdade. "Id est", reputo pertinente não ser perquirido, por ter expressado, "In continenti", a verdade.

Destarte, eu não sou delegado e nem delegaria a outrem expressão de um sentimento tão genuíno, "Ictu oculi".

Ciente de que a doutora fora aprovada para a magistratura, meritíssima, e, evitando a oitiva, Vossa Excelência já obteve de mim, a expressão da verdade. Nada mais que a verdade.

Apelo para que se digne a cumprir o dispositivo jurídico do "In dubio pro reo".

Inclinando Vossa Excelência a apenar-me, conclamo à preclara magistrada aplicar-me a pena alternativa de envolve-la, diariamente, com um afetuoso abraço.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 07/10/2014
Reeditado em 11/10/2014
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