Ganhando Um Buquê de Flores
Pois ocorreu que eu, outro dia, voltando para casa, dentro de um coletivo, grudada feito lagartixa na porta, deparei-me com a seguinte situação:
Vi pelo vidro uma moça que carregava numa altura acima de sua cabeça um enorme buquê de flores, e corria em direção ao ônibus, o mesmo veículo em que eu desesperadamente buscava uma corrente de ar. Ela corria para entrar no mesmo ônibus que eu!
Recordo-me de ver, talvez, um rapaz ao lado dela também, mas disso já não tenho certeza, afinal, era tanta gente...
A questão era que, ora, como ainda me impressiono com isso? Um lindo e grande buquê de rosas vermelhas, e eram verdadeiras, distintas, vívidas, e... visualmente cheirosas. Nada da lojinha da esquina que faz três por R$ 5,00 naquelas adoráveis, plastificadas e empoeiradas flores de sobra de estoque do Dia das Mães. Não tenho nada contra ramos empoeirados, mas convenhamos que o frescor do natural é sempre um privilégio!
E a menina, que dó, enfrentando os asfixiantes ônibus. Não, não sinto pena dela, me comovo pelo sofrimento das obviamente nada econômicas rosas vermelhas que passeavam por enclausurados espaços.
E eu, virada numa sardinha dentro do enlatado, me peguei imaginando... e se um dia for eu? Se eu ganhar em algum momento de minha reles vida, sublimes e frescas flores, delicadamente unidas pelo caule, envoltas de um plástico parcialmente transparente decorado na borda com corações brancos, atraindo a atenção de todos os conterrâneos locais, inclusive instigando meu orgulho e a inveja alheia?
E não, não é inveja que sinto. Preocupo-me com as flores. Não alimente esse pensamento, pois é um tanto preconceituoso, quer dizer, a solteirice não provoca nas pessoas sentimentos tão ruins assim. Pelo menos, não isoladamente...
Enfim, a conclusão a que chego é que, futuramente, ganhando as tais flores, o sujeito teria que me levar de carro pra casa! Na falta de carro, me leve no colo. Pois se não puder, ao menos, me pagar um táxi, não deve ter cacife pra comprar um buquê como aquele, ah, não... Ou ele que tempere o buquê com sal e azeite, fique de presente, e durma sozinho após a salada do jantar!
01/10/2014
* As situações citadas na construção da narrativa são fictícias e estão livres de qualquer tipo de preconceito.